quinta-feira, 28 de março de 2024

Jovens do sudoeste goiano que vivem nos Estados Unidos são vacinados contra a Covid-19

POR Ana Carolina Morais | 11/04/2021
Jovens do sudoeste goiano que vivem nos Estados Unidos são vacinados contra a Covid-19

Arquivo Pessoal / Rafaela Micheli Berry e Matt Doyle

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O ‘estar sempre em casa’, inserido em nossas vidas como medida de contenção à pandemia de Covid-19, pode até trazer a sensação de que tudo é sempre o mesmo e todos os lugares são iguais. Afinal, é quase consenso que os maiores passeios feitos foram em diversas abas da internet. Apesar disso, essa sensação é equivocada, e quem pode comprovar são dois jovens goianos, moradores dos Estados Unidos, que também têm rotinas semelhantes às brasileiras no quesito prevenção, mas que carregam em si uma enorme diferença com o país de origem: a imunidade contra o novo coronavírus.

 

 

Apesar de jovens e sem comorbidades, Rafaela Micheli Berry, 23 anos, de Jataí/GO e Matt Doyle, 24 anos, de Rio Verde/GO, por atualmente viverem, respectivamente, em Atlanta, Georgia, e em Manchester, New Hampshire, já receberam a primeira dose da vacina da Pfizer contra a Covid, oportunidade que surgiu devido o cronograma acelerado de imunização dos EUA.

 

 

As cidades natais de ambos, assim como quase todo o Brasil, ainda seguem em fases iniciais da vacinação. Em Jataí, terra da Rafaela, a faixa-etária do momento é a de 65 anos de idade. Ela conta que possui vários familiares brasileiros do grupo de risco, mas que somente a bisavó materna e avó paterna foram imunizadas até o momento.

 

“Super considero que meus familiares deveriam ter sido vacinados antes! Inclusive hoje mesmo vi o post da Greta Thunberg falando sobre como o Covid é uma crise mundial e que deveriam serem tomadas medidas mundiais, e que países ricos estão errados em vacinar a população jovem sendo que em países pobres nem toda a linha de frente foi vacinada e eu fiquei me sentindo mal real”, desabafa a jovem.

 

 

O sentimento é compartilhado também por Matt. Apesar de em Rio Verde, sua terra natal, estar para iniciar a imunização dos moradores com 62 anos de idade na próxima segunda-feira (12), a realidade ainda é bem distante da vivenciada por ele em Manchester. “Na minha família, aí no Brasil, quem tem muito risco é meu irmão, que tem uma situação respiratória muito difícil, e ele não conseguiu vacinar ainda. Por mais que ele seja novo, é uma doença que, se ele pegar, ele iria parar na UTI. Então eu acho que ele já devia ter se vacinado há muito tempo”, conta.

 

 

Reprodução foto / The Den - Mercer University
Foto: The Den - Mercer University

 

 

Experiência

 

Apesar da consciência relativa às discrepâncias de realidades entre os países, e mesmo com a angústia de acreditar que os familiares brasileiros já deveriam estar imunizados antes mesmo deles, o momento da vacinação não deixou de ser emocionante para os jovens goianos. Afinal, é algo muito aguardado e desejado por todos.

 

 

“Tomei a minha primeira dose dia 7 de abril. O governo montou um centro de vacinação no estádio de futebol e o cenário é até meio apocalíptico, sabe?! Tipo em filme de zumbi, com as tropas do exército organizando todo mundo e tudo mais. Fui vacinada por um soldado! Mas também sei que tem horários abertos nas farmácias e supermercados ao redor do estado, mas com menos disponibilidade. Eu fiquei muito feliz [por ter tomado a vacina]! Conheço algumas pessoas que tiveram alguns efeitos colaterais tipo febre, dor no corpo e fraqueza, mas acho que meu alívio por ter tomado essa vacina tá bloqueando os sintomas”, revela Rafaela.

 

 

Para Matt, ter recebido a primeira dose também foi um momento de alívio. “Me sinto aliviado. Vou tomar a segunda dose dia 29 de abril. Foi muito tranquilo [tomar o imunizante], como qualquer outra vacina que tomei na vida. Aqui onde eu moro, pelo menos, eles fecharam uma parte do shopping e fizeram toda essa parte como se fosse um posto de vacinação. Aí você chega lá, com horário marcado, tem que se cadastrar antes.  Daí você mostra seu cadastro, eles escaneam, tiram sua temperatura, pedem documento e comprovação de residência, aí você entra na fila e vacina. Tudo muito organizado, com fila, áreas separadas para cada pessoa. E os rapazes do exército que estão tomando conta de tudo com a equipe médica”.

 

 

No estado de Rafaela, assim como no de Matt, também é preciso fazer um cadastramento prévio, mas apesar disso, ela conta que sua mãe conseguiu ser imunizada mesmo sem realizar essa fase burocrática. “O Trae [namorado] que fez meu cadastro, ele fez numa quarta-feira pra mim e pra ele, ele marcou a dele pro dia seguinte e a minha foi na semana seguinte porque eu tava bastante ocupada com trabalho. Então, pra mim, depois do cadastro, foi uma semana, mas o Trae se vacinou no dia seguinte. E a minha mãe nem cadastro fez!! Ela só foi em um cento de vacinação e perguntou o que ela precisava fazer e saiu vacinada!”.

 

  


Rafaela no estádio após ser vacinada - Foto: Arquivo Pessoal

 

 

Por qual razão no Brasil é diferente?

 

Questionados sobre qual seria a possível razão de, no Brasil, o caminhar da imunização contra a Covid ser tão diferente do realizado nos Estados Unidos, ambos acreditam ser devido ao tratamento ofertado pelos governos no combate à pandemia.

 

 

“Aqui eles estavam com pressa e queriam a vacina a todo custo e a maioria dos estados estavam seguindo estritamente as regras de lockdown e quarentena. Sem querer ser muito político, mas obviamente [o motivo da diferença é] o presidente. Ele fez várias piadas sobre o Covid e até mesmo sobre a vacina quando foi anunciada a mesma”, afirma Matt.

 

 

Em concordância sobre a influência dos chefes de estado no controle do vírus, Rafaela ainda reforça a questão do negacionismo como meio de atraso na batalha contra a Covid. “Não acompanhei as medidas tomadas durante a pandemia no Brasil, mas pelo menos aqui, a mudança drástica de governo foi o que permitiu o processo de vacinação. O negacionismo do Trump contribuiu em grande parte para o alto número de mortes pelo vírus no ano passado. Os chefes de estado influenciam diretamente na gerência e resolução de crises, por isso é tão importante eleger um candidato preparado e que defenda a ciência e verdade a todo custo”.

 

 


Vacinação em Rio Verde - Goiás - Foto: Divulgação / Prefeitura de Rio Verde

 

 

Vida pós-pandemia

 

O desejo número um da vida pós-pandemia da jataiense e do rio-verdense é poder vir ao Brasil e conseguir sanar o sentimento de saudade, que só conseguirá passar com muita aglomeração e sem distanciamento social – vivências que só serão possíveis com o fim do momento pandêmico.

 

 

A Rafaela, por exemplo, mora há 5 anos nos EUA e nunca mais retornou ao seu país de origem. “Eu queria muito ir para o Brasil visitar a minha família. Já fazem cinco anos que não vejo nenhum deles e quando eu estava com a primeira viagem marcada, para a Páscoa de 2020, a pandemia começou e eu tive que ficar em casa. Mas ainda fico apreensiva porque por mais que eu esteja vacinada, não quero ser motivo para as pessoas furarem a quarentena, e não tem como fazer distanciamento social com a saudade que eu tenho de todo mundo”.

 

 

De outro lado, Matt, há 2 anos e meio nos EUA, deseja vir ao Brasil visitar a família, mas também quer muito além. Isso porque ele se casou em abril de 2020, logo após o início da pandemia, e quer muito poder viver as fases do casamento, como a festa e a lua de mel, que ficaram fora de cogitação com a Covid-19.

 

 

“Eu casei em abril, vai fazer um ano. Eu me noivei e uma semana depois anunciaram a pandemia. Então, eu não consegui fazer festa de casamento, nem nada. O casamento foi literalmente eu, meu marido, a juíza de paz e um amigo do meu marido, que ficou de longe filmando e tirando foto. A gente pretende fazer festa e tudo, lua de mel, a gente não fez nada, não foi nada como eu sonhei, foi da forma que deu para fazer”, explica.

 

 


Matt e o marido - Foto: Arquivo Pessoal

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