quinta-feira, 21 de novembro de 2024

'O feminismo negro é um assunto pouco debatido no nosso Estado', diz Carla Xavier sobre o 25 de julho

POR Jornal Somos | 25/07/2019
'O feminismo negro é um assunto pouco debatido no nosso Estado', diz Carla Xavier sobre o 25 de julho

Redação Jornal Somos

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Hoje (25) é o dia da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha (saiba mais aqui). Pensando nisso, a equipe do Jornal Somos convidou uma grande mulher para comentar sobre esta data e contar sua vivência como uma mulher negra no nosso Estado, tão conhecido por ser retrógrado.

 

Carla Oliveira Xavier é formada em Direito pela Universidade de Rio Verde e hoje trabalha como escrivã na Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher, da Polícia Civil de Santa Helena de Goiás.

 

Assim como muitas mulheres negras, Carla passou uma parte de sua vida tentando se esconder de sua identidade, especialmente na questão estética, por conta do racismo que sofria. Hoje ela é militante ativa do movimento negro e especialmente do Feminismo Negro.

 

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Como você vê a diferença entre cabelo cacheado e cabelo liso imposta pela sociedade?

Ainda hoje, mesmo a militância batendo nesses temas, não aceitam o cabelo crespo/cacheado como nossa identidade. Haja vista que perguntam se é moda, o que não é fácil de responder já que temos que contar todo o contexto histórico pra explicar o porquê de só agora assumir nossos cabelos, ainda temos que lidar com comentários tipo: “Como faz pra lavar?”, “É macio né?” sendo que mulheres de cabelo liso não ouvem os mesmos comentários.

 

Você acredita que suas oportunidades profissionais foram ou são limitadas pela sua cor e gênero?

Sim, a mulher negra em geral tem oportunidades limitadas. Infelizmente o racismo institucional é enraizado e ainda temos muito a lutar contra isso. Em uma vaga de emprego, se uma mulher negra não seguir um padrão de “branca”, ela não consegue. Ainda mais se for pra trabalhar diretamente com imagem. E, além disso, nosso desempenho tem que ser três vezes maior, por que além de mulheres, somos negras.

 

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Qual o pior momento que você já sofreu de preconceito quanto a sua raça e gênero?

Quando eu tinha uns 20 e poucos anos, ao conversar com um rapaz pelo Skype, eu não usava foto. Quando eu coloquei, ele se surpreendeu pelo fato de eu ser negra e perguntou se era eu mesmo. Quando eu respondi que sim, ele me disse que eu digitava muito bem pra ser negra e depois me bloqueou.

 

Quando sentiu que recebeu o merecido respeito pelos outros não importando a sua cor e gênero?

Eu ainda não senti isso. Porque eu ainda tenho que lidar com piadinhas diárias por ser negra e mulher. O feminismo negro é um assunto pouco debatido no nosso estado, e pouco representado também. A mulher negra também tem que estar enfoque nas pautas feministas, porque apesar de sermos todas mulheres, a luta da mulher negra não é a mesma que da mulher branca. Além de que somos a maioria das vítimas de violência doméstica, estupro e feminicídio, mas somos minoria em universidades, em cargos de destaque. A solidão da mulher negra também é pouco falada. Acontece porque a mulher negra ainda é vista como um fetiche dos homens brancos, é vista como a mulata quente da “bunda grande” e assim por diante. A solidão da mulher negra é real, e até mesmo homens negros, evitam se relacionar com as mulheres negras.

 

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