quinta-feira, 21 de novembro de 2024
Redação Jornal Somos
A jovem Gabryely, de 20 anos, utilizou de sua rede social para denunciar um suposto assédio ocorrido em uma farmácia de Rio Verde localizada no bairro Jardim América. Com ansiedade, ela ainda aguarda respostas das autoridades sobre o acontecido.
O delito foi cometido por um funcionário ao aplicar uma injeção na vítima. Até então, o vídeo postado no final do mês de julho, quinta-feira (23/7) com o relato, possuia 11.541 visualizações e foi compartilhado diversas vezes pelos usuários. O fato ocorreu na manhã de quarta-feira (22/7) e a ocorrência foi registrada na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) no mesmo dia. A oitiva das partes envolvidas ocorreu no início do mês de agosto, onde o aplicador de injeção negou as acusações efetuadas, segundo a assessoria da Polícia Civil de Rio Verde.
De acordo com a vítima, ela se dirigiu ao estabelecimento para comprar um remédio para herpes labial, mas foi convencida pelo funcionário de que seria melhor, e até menos dispendioso, a aplicação de uma injeção. O procedimento ocorreu na nádega e o homem teria abaixado sua calça e sua calcinha e as subido após o procedimento, encostando nela.
“Entramos para a sala, eu perguntei para ele onde seria aplicado, ele falou na bunda, eu falei ok. Aí eu perguntei o lado, ele falou qualquer um. Eu tirei um pouco da calça e da calcinha pra ele poder aplicar, né. Ele sem perguntar, sem falar nada, ele simplesmente abaixou a minha calça e logo em seguida ele abaixou a minha calcinha. Eu não falei nada. Antes dele aplicar, na verdade, eu perguntei se iria doer. Aí ele falou assim ‘calma bebê, vou aplicar devagarzinho, vai ser devagarzinho’. Eu continuei calada. Ele aplicou e quando terminou de aplicar ele pegou a minha calcinha e começou a subir ela e veio com as duas mãos segurando na calcinha, cada uma de um lado, e puxando e colocando a mão na frente, como se tivesse arrumando minha calcinha, e depois ele veio pegando na minha calça, e eu falei ‘não, pode deixar’”, relatou a jovem no vídeo.
No mesmo dia da ocorrência e denúncia efetuada pela vítima (22/7), foi registrado no sistema virtual da Polícia Civil (PC) um pedido de ajuda realizado pelo suspeito, informando que fora acusado de assédio pela jovem e alegando ter utilizado o procedimento padrão de aplicação de injeções. Ele ainda afirmou que trabalha no segmento há aproximadamente 10 anos na cidade e nunca havia passado por uma situação como esta. Segundo a Dra. Jaqueline Camargo, delegada responsável pela DEAM, o relato do suspeito foi feito sem qualquer tipificação de crime ou delito, requerendo apenas a apuração do caso.
Foi constatado em consulta ao sistema da PC que não há nenhuma outra acusação semelhante contra o suspeito. Mas após a postagem realizada pela vítima na rede social, outra mulher relatou, informalmente, que também havia sido assediada. “Uma moça entrou em contato comigo dizendo que passou exatamente pela mesma coisa, só que diferente de mim, no caso dela, ele se deu a liberdade de abrir o zíper dela. Quando ela me contou, confesso que fiquei desesperada, pois eu não era a primeira. A vítima dele ainda relatou que no dia se sentiu envergonhada e não contou a mais ninguém, e que eu era a primeira a saber”, contou Gabryely ao Jornal Somos.
Na oitiva do início do mês de agosto, o suspeito negou a prática de qualquer conduta abusiva, afirmando ter realizado normalmente a aplicação da injeção, relatando que as vestes da jovem foram abaixadas o suficiente para o procedimento, e que a mesma teria saído satisfeita do local. Como meio de comprovação de que a vítima saiu tranquila do estabelecimento, o homem apresentou filmagens das câmeras de segurança da farmácia. As imagens foram analisadas pelos agentes de polícia e, segundo informado pela DEAM, mostram a jovem chegando ao local, depois se dirigindo ao caixa, efetuando o pagamento, passando o cartão de modo tranquilo e se despedindo do suspeito. Também foi ouvida a esposa do acusado, que é proprietária da farmácia, e uma testemunha, que relatou tomar injeção com o aplicador há dois anos e que tudo sempre transcorre normalmente.
A jovem relata que ficou sem reação no momento do fato e que não conseguiu esboçar qualquer sentimento. “Quando uma pessoa é assediada ou abusada fisicamente, rara as vezes conseguirá ter uma reação rápida da situação. É algo que nunca imaginamos que pode acontecer conosco”, diz.
O procedimento de aplicação de injeção possui regramento específico no Brasil. A Resolução nº 499 do Conselho Federal de Farmácia estabelece, em seu art. 21, que apenas farmacêuticos ou profissionais habilitados com autorização expressa do farmacêutico diretor ou responsável técnico podem aplicar medicamentos injetáveis, sendo requisito essencial a presença e/ou supervisão do farmacêutico. Em depoimento, o suspeito informou que irá apresentar certificado de aplicador de injeção. Conforme a exposição do fato realizada pela vítima, ela e o funcionário estavam sozinhos durante a conduta.
Outra normativa elencada na Resolução nº 499 do CFF dispõe sobre a administração de remédios injetáveis. De acordo com o art. 23, “os medicamentos injetáveis só deverão ser administrados mediante prescrição de profissional habilitado”. A vítima expõe, em sua versão dos fatos, que a indicativa do medicamento injetável foi realizada pelo próprio suspeito.
O Conselho Regional de Farmácia de Goiás (CRF-GO) enviou uma equipe de fiscalização para cumprir diligências na farmácia sede da ocorrência e assegurou que é contra e repudia qualquer tipo de assédio e violência contra a mulher. Segundo Lorena Baía, diretora do CRF-GO, foi averiguado que o suspeito não está inscrito como farmacêutico responsável técnico pelo estabelecimento, mas que ainda serão necessárias mais informações quanto aos desdobramentos do ocorrido para que as providências necessárias sejam tomadas a partir da avaliação dos fatos.
Jornal online com a missão de produzir jornalismo sério, com credibilidade e informação atualizada, da cidade de Rio Verde e região.