quinta-feira, 25 de abril de 2024

Indígenas venezuelanos refugiados em Rio Verde não estão em situação de rua e utilizam mendicância como trabalho legítimo

POR Ana Carolina Morais | 25/05/2021
Indígenas venezuelanos refugiados em Rio Verde não estão em situação de rua e utilizam mendicância como trabalho legítimo

Divulgação / Ministério Público de Goiás

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Os venezuelanos encontrados às margens das ruas de Rio Verde pedindo dinheiro não são refugiados comuns: em sua maioria, são os povos indígenas da etnia Warao. Característicos por suas roupas coloridas e por estarem sempre em família, inclusive com as crianças, suas atitudes remetem à situação de rua. Entretanto, essa não é a realidade deles. Esse grupo precisa, sim, do auxílio do poder público e pode receber sua doação de dinheiro, alimentos ou roupas, mas saiba que a atividade de mendicância é tratada, por eles, como um trabalho legítimo.

 

 

O povo Warao é um grupo indígena da Venezuela com 8 mil anos de história que viviam do extrativismo, mas que foram levados para a zona urbana devido à problemas ambientais, uma vez que a área em que eles permaneciam se tornou imprópria para o cultivo. Diante dessa situação, com a falta de estudo e preparo para o mercado de trabalho, encontraram na mendicância uma forma de ganhar dinheiro. Atualmente, os localizados no município vêm para Rio Verde à trabalho, mas sua base de residência é em Goiânia.

 

 

“Quando saíram da zona rural e foram para a zona urbana, a forma em que eles acharam para subsistência foi pedindo. Até então eles tinham uma cultura própria, viviam do que colhiam... E aí são levados para a zona urbana sem estudo, sem preparação para se inserirem no mercado de trabalho... Então, eles têm essa conduta de pedir como uma forma legítima de ganhar dinheiro. Eles não se sentem envergonhados por isso”, explicou a Dra. Renata Dantas, promotora de justiça de Rio Verde, em entrevista para a Rádio Líder 95 fm.

 

 

Traumatizados com um histórico de negligência do poder público vindo desde quando residiam na Venezuela, o povo Warao apresenta resistência em receber apoio. Apesar disso, o Ministério Público de Goiás (MP-GO), junto à Assistência Social de Rio Verde, busca por formas de construir um relacionamento de confiança com esses refugiados, tanto para ajuda-los, uma vez que eles possuem direito à assistência, a possuir documentos, entre tantos outros, quanto para orientá-los que respeitem as legislações brasileiras, principalmente no caso de exposição de menores à mendicância.

 

 

 

 

“Eles não estão em situação de rua. Uma vez que eles ficam em hotéis, em pousadas, o CREAS tem orientado que fique um adulto com essas crianças, para que os outros vão em busca de trabalho, de oportunidades... E nós orientamos também que no Brasil nós temos as leis brasileiras. (...) De uma forma bem simples nós informamos no Brasil nós temos um livro, que no livro tem as leis que protegem as crianças e os adolescentes, que no Brasil não se pode levar as crianças para essa situação de mendicância, de ficar na rua, porque é muito perigoso, pode acontecer um acidente, entre outras questões...”, conta Lídia Melo, Coordenadora de Assistência Especial de Rio Verde, também em entrevista à Rádio Líder 95fm.

 

 

O desafio na questão das crianças junto aos pais ou responsáveis enquanto estão pedindo dinheiro é que, para eles, não há mal nisso, uma vez que é da cultura Warao que o grupo inteiro permaneça unido, inclusive nesse momento de trabalho. Dessa forma, para não incentivar essa prática, os órgãos públicos recomendam que, ao fazer doações, seja observado se eles estão com menores, e se sim, não oferecer dinheiro. A única exceção é para bebês de colo, porque eles se alimentam por meio da amamentação em livre demanda, e nesse caso, realmente não há como a criança se separar da mãe.

 

 

“Quando for criança de colo, que está amamentando, essa vai ter que permanecer junto com a mãe, mas as outras, eles têm condições de mantê-las resguardadas, então nós já iniciamos as tratativas”, afirmou Dra. Renata.

 

 

Para ajudar o povo Warao, a promotora de justiça explica que além do dinheiro (somente quando não estiverem acompanhados de crianças), também é possível oferecer roupas, alimentos (atentando-se ao fato da alimentação restrita deles, à base de frango e macarrão, o que pode fazer com que vendam os itens alimentícios ganhos, mas apenas por comerem poucas coisas semelhantes às brasileiras) e fraldas, que são os itens que eles mais necessitam.

 

 

 

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