quinta-feira, 21 de novembro de 2024
Redação Jornal Somos
Hoje, quarta feira (05), é o Dia Mundial do Meio Ambiente. Pensando nisso e com inspiração no projeto “Plantando Água”, o Jornal Somos convidou a doutora em Ciências Ambientais pela UFG, mestre em Direito Agrário e diretora da Rede Gaia Consultoria Ambiental, e que é a idealizadora do projeto Dra Luciane Martins de Araújo. A mulher por trás da iniciativa conversou sobre os principais assuntos da área com a gente, confira a seguir.
1. Como idealizadora do projeto “Plantando Água”, você acredita que ainda existe pouca informação para acontecer uma efetiva mudança de comportamento ecológico?
Precisamos de mais informação na área, pois conscientização e educação ambiental são fundamentais para que tenhamos a dimensão da importância que o meio ambiente tem em nossas vidas e o motivo pelo qual temos que agir. Cada um tem um papel importante a assumir, como por exemplo, como tratamos nosso lixo, a forma com que utilizamos a água e tantas outras coisas.
2.Para a nova edição do projeto , já existe alguma novidade ou atividade que podemos antecipar?
O projeto “Plantando Água” tem os eventos pontuais e iremos realizar mais edições neste ano, mas o melhor de tudo é que ele está presente em nossa cidade e precisamos cuidar das árvores que plantamos, por exemplo, em nossa última edição, em março, no cruzamento entre a Rua Pastor Carvalho e a Avenida Brasil, do Residencial Maranata (veja matéria completa). Temos que nos preocupar em aguar as mudas plantadas e evitar que sejam danificadas. O projeto “Plantando Água” está presente todos os dias em nossa cidade e já sentimos o seu resultado em árvores já grandes, isso é o mais importante!
3. Muitas pessoas não entendem que lixo entulhado, lixo malcuidado ou não-reciclado podem afetar negativamente a cidade. Como isso acontece?
Lixo, na verdade, é insumo para a produção, é riqueza, não pode ser tratado como estamos fazendo. Isso significa que quando deixamos o lixo sem separação, na porta de nossas casas, estamos apenas nos livrando de um problema, mas causando uma série de outros, pois isso tudo vai parar num lixão ou aterro sanitário. Se mudarmos de atitude e fizermos a separação dos resíduos (secos e molhados) e isso for reciclado, irá voltar para a cadeia produtiva como novos produtos. Somos exemplo mundial em reciclagem de latas de alumínio, mas temos que ampliar esse rol. Já temos tecnologia para reciclar plástico, papel, embalagens tetra park, dentre outros. Isso começa dentro de nossas casas.
4. Outra falta é o produtor rural ou empresário que não respeita as regras ambientais. Como o desmatamento pode afetar negativamente o cotidiano dessa propriedade?
Quando falamos em produção da agropecuária, temos que pensar que as regras ambientais visam trazer benefícios para o próprio produtor. É falácia dizer que isso é ônus. Por exemplo, se não preservamos a vegetação dos cursos d’água há uma visível redução na disponibilidade hídrica. Isso prejudica sobremaneira a agropecuária. Também manter a Reserva Legal para nós é essencial, pois o Cerrado é um verdadeiro “produtor de água”. São suas raízes que vão propiciar que a água infiltre no solo, forme o lençol freático e surja como nascentes. Se desmatamos essas áreas, ficaremos sem água.
5. Recentemente as tragédias de Brumadinho e outras regiões, chamaram a atenção dos órgãos fiscalizadores. O resultado desses inúmeros problemas (como em Minas Gerais, Rio, São Paulo, Goiás) é resultado de negligências específicas ou precisaria mudar todo o sistema?
Há um verdadeiro desmantelamento das áreas de cuidam da questão ambiental atualmente, mas a sua desestruturação, com a redução de pessoal já é sentida há alguns anos. Isso resultou em todo esse descaso que ceifou vidas humanas e causou um grave desequilíbrio ambiental. A tragédia de Mariana não serviu para que evitássemos outras tragédias e Brumadinho veio de forma tão avassaladora, matando quase 300 pessoas. Será que outros casos precisarão acontecer? Temos que cobrar maior comprometimento do poder público para evitar que fiquemos tão vulneráveis. É bom ressaltar que barragens como essas que se romperam em Mariana e Brumadinho também estão presentes em várias mineradoras do nosso Estado.
6. Ainda sobre o reflexo das tragédias humanas causadas em função da falta de fiscalização ambiental, apesar dos debates iniciados, você acredita que a partir de 2019 teremos mudanças efetivas nas normas e estrutura que impeçam novas tragédias desta proporção?
Temos enquanto população, uma importância muito grande nisso, não podemos deixar que o poder público continue omisso e que tragédias se sucedam. Temos que pressionar que evitar novas ocorrências. Começamos o ano com a tragédia de Brumadinho, mas espero que ela sirva de fato para evitar novas ocorrências, não podemos deixar que isso caia no esquecimento.
7. A nova gestão federal aparentemente diminuiu o destaque para a área do Meio Ambiente. Como você vê o impacto disto a curto, médio e longo prazo?
Infelizmente pensamos só no curto prazo e o discurso do governo federal é priorizar o agronegócio. Isso é ótimo, mas a médio e longo prazo, sem pensar na questão ambiental, que não é inimiga e sim aliada do produtor, sentiremos os efeitos da falta de água, alteração do clima, falta de polinizadores e tantos outros problemas que poderão levar a uma redução drástica na nossa produção. Isso não é discurso falacioso, nossa ciência há muito tempo adverte isso e os efeitos disso já estão sendo sentidos. Espero que não precisemos chegar ao colapso para vermos que essa direção não ajudará de fato nossa economia.
8. Você acredita que ainda existe pouco incentivo de governo a iniciativas privadas para realizar projetos sustentáveis e ecológicos?
Temos vários projetos interessantes que estão em andamento principalmente em nível local. Ressalto a importância do programa de “Pagamentos por Serviços Ambientais” coordenado pela Prefeitura de Rio Verde e que remunera os proprietários de terras para preservar as nascentes do Ribeirão Abóbora que abastece a cidade. Isso já resultou em um aumento da quantidade e qualidade da água que serve a nossa cidade. Projetos como esse são exemplos de que vale a pena investir na proteção do meio ambiente. Cada atitude nossa em defesa do meio ambiente é uma luta pela preservação da vida humana também!
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