quinta-feira, 21 de novembro de 2024
Redação Jornal Somos
Ênio Fernandes, é conhecido na área pela forte visão de mercado principalmente quanto ao agro, por isso a equipe do JORNAL SOMOS, convidou ele para fazer uma análise quanto aos dilemas econômicos que o país tem vivido sobre os combustíveis. Ênio é formado em engenharia agrônoma, consultor de mercado de Milho e Soja, professora da FGV, além de empresário rural e vice presidente do Sindicato Rural de Rio Verde.
JS: Como você o problema dos combustíveis hoje?
ÊNIO: Vou voltar um pouco atrás e lembrar que quando a pessoa entra no mercado de refinaria, em que se pega o óleo bruto/petróleo para transformar em combustíveis, o retorno financeiro do investimento, demora em médio de 15 a 20 anos, como a gente começou esse movimento de energia mais limpa, os grandes bancos do mundo não investiram mais, não emprestaram mais fundos para investimentos nessa área. O que fez com que consequentemente as empresas parassem de investir em novas refinarias e novos postos, porque não se tinha fundos para ISS, ou quando tinha, era muito caro. Além de que estudos onde falam sobre o fim desta fonte de renda dentro de 15/20 anos, sendo que este seria o período em que finalmente o investidor começaria a ter lucro real. Então tivemos um momento importante e forte de economia verde, mas sem ter o planejamento de uma transição para isso. E com a Guerra, esse desequilíbrio sobre a oferta e demanda. Então o preço do Petróleo hoje é consequência de uma série de tomadas de decisões e grande parte deles foi tomada há muito tempo, principalmente de cinco anos para cá.
Entretanto isso não exime a total falta de inabilidade do presidente da Petrobras, como também do governo, como também dos políticos em tratar deste assunto. Um assunto tão estratégico como este eu não discuto isso pela imprensa ou mídia. Como maior acionista, e como aquele que tem o voto majoritário, deveria se chamar o presidente da Estatal e criar um Plano Emergencial, para o qual é preciso ter bom senso de ambos os lados para que não aconteçam mensagens erradas. Se o presidente da República, ou o Ministro de Minas e Energia chama o presidente da Estatal para reunião que sai da mesma afirmando que estão tentando controlar o preço dos combustíveis, isso irá causar um desastre.
JS: E sobre as trocas frequentes de presidência?
ÊNIO: Esse movimento de alta do combustível está causando incômodo não só no Brasil, vemos problemas em outros lugares, como os EUA, em que o presidente chamou os representantes e eles entraram em um acordo para que se consiga o mínimo de lucro. Aqui nós não tivemos isso, então, aqui é preciso tomar mais cuidado. Os políticos podem usar esta fragilidade entre a Petrobras e o Governo Federal, e mexer na lei das Estatais e apenas ficar criando políticos, o que não beneficia em nada o país.
Quanto a este último que renunciou, ele foi muito inábil, porque ele sabia que ia dar este desgaste. Ele era o principal foco de uma empresa como esta, sendo assim a marca da mesma, olha como caíram as ações da Petrobras depois deste aumento? Ele precisava ter sido mais ponderado, negociado nos bastidores, tivesse retardado este aumento mais alguns dias, ele poderia ter preservado a imagem da Petrobras. Ai, a pessoa mais liberal poderia dizer: daí iria faltar diesel, a decisão de faltar ou não, mais para frente, daria o direito de que os valores aumentassem, e daí sim ele aumentaria a margem de lucro mas também seria o salvador da pátria.
Esse movimento de políticos para reduzir as margens de lucro sobre o petróleo é no mundo inteiro. E precisamos tomar mais cuidado quanto o que se fala na imprensa. Você não pode agredir muito uma empresa desta, se você for vender ou não, de qualquer jeito esta depreciando o seu patrimônio. Ela sempre será uma empresa estratégica, e precisa preservar esta marca. O que falta é sentar, rever esta política de preços, e tem faltado essa habilidade do presidente da Petrobras e de todos os elos políticos, não estou falando só do governo federal. Eu tenho muito medo quanto os políticos querem ajudar muito a população, no final do dia eles ajudam eles mesmos. Empresa em que o Estado entra, ele destrói, basta observar o que já aconteceu com bancos estatais; a gente tem reclamado da Enel mas lembrem-se da Celg, porque uma é reflexo da outra. Onde tem muito dinheiro e muita gente tomando conta, a conta final não fecha, e quem paga de novo, somos nós. Na conta de luz que nós pagamos hoje, ainda estamos pagando conta do congelamento de preço que a Dilma fez em sua época. E a gente reclama hoje, mas o estrago foi feito lá atrás. E isso já fazem oito anos.
JS: E o que falar sobre o projeto de Lei que reduziria o ICMS?
ÊNIO: Precisamos entender o processo, o governador coloca por exemplo 32% sobre o valor do produtor, mas não sobre o valor que se vende a mercadoria, mas sim sobre o que ele achava que iria vender. O que resultava momentos em que os valor ficava bem mais alta, e fica difícil justificar um custo deste. Outra coisa, os governados estaduais receberam muito dinheiro para ser aplicado na saúde, entretanto sem função específica. Vou te dar um exemplo, o governo do Rio Grande do Sul pegou o dinheiro e pagou salários atrasados, eu não estou dizendo se isso foi certo ou errado, porque para saber qual seria a minha maior necessidade, eu precisaria estar sentado na cadeira, porque talvez se ele não pagasse os atrasados, eu teria uma série de greves que nem a minha saúde iria funcionar, eu não estou criticando a ação.
Mas é preciso ser claro, a maioria dos Estados estão com caixas confortáveis porque a arrecadação cresceu, veio dinheiro do governo federal e ainda pode usar o ICMS dos combustíveis como uma forma de arrecadação. Então a gente tem que ter um ajuste sim. Se importar limites em impostos, sou plenamente a favor. Porque se você não controla isso, o Estado sempre vai gastar mais e vai gastar mal. Uma pessoa comum, recebe o salário e planeja o mês, planeja seu ano. Agora quanto você não tem orçamento, e gasta sem limites, sempre vou aumentar impostos. Assim não se melhora os serviços prestados, não faz nenhum controle interno. De verdade, temos que lembrar que o trabalhador brasileiro trabalha cinco meses do ano só para pagar impostos, deputado, governador, funcionários públicos. Então como é que se pode aumentar mais impostos? Então chega-se em um ponto em que se asfixia a economia, e você começa a ver todo mundo para o lado informal da economia, e aí está a resposta.
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