quarta-feira, 24 de abril de 2024

Rio Verde

A mulher por trás da vereadora

POR Jornal Somos | 30/03/2019
A mulher por trás da vereadora
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Fechando este mês em que tantas mulheres se apresentam na mídia como referência do empoderamento feminino, o JORNAL SOMOS convidou a vereadora e colega de profissão Andresa Martins para uma exclusiva. Leia a seguir.

Vida

Apesar de ser paulistana, Andresa contou que foi para Ituiutaba (MG) com 13 anos de idade, “quando a minha mãe separou do meu pai, fomos para lá porque a família da minha mãe era de lá”.

“A minha infância foi muito fechada, não brinquei na rua. Éramos muito pobres, não tive os brinquedos que quis, usava roupas que os outros doavam. Não tive a infância igual do meu filho, por exemplo, que eu pude proporcionar mais. Mas também não foi nada traumático. Ao contrário, me fez dar valor às coisas. Eu agradeço tudo que acontece na minha vida. Não sou uma pessoa de ambições, mas gosto muito da estabilidade e de saber que amanhã vai estar tudo bem e depois de amanhã também. O meu sonho realizei que era ter a minha casa própria, que foi bem antes da política, onde moro desde 2009. E também para minha mãe. Formando meu filho, eu estarei zerada, posso até aposentar com um salário mínimo que vou estar tranquila.”

Quando falamos de estudos, ela lembra que sempre teve vontade, mas nunca condições: “Na verdade são poucas as oportunidades na minha área, e só não fiz, não estudei, por conta da dificuldade em ter uma casa em minha responsabilidade. Sempre trabalhei em dois lugares, fiz “bicos”. Muita gente me conhece de quando trabalhava na Feira, eu fazia aos domingos os flashes. Então, nunca tive tempo realmente de estudar”.

Quando falamos em maternidade, o sorriso tomou conta do rosto de Andresa. “Foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Com o pensamento de só trabalhar, não pensava em ter filho tão cedo. No primeiro casamento ele queria ter filho, eu tinha 22 anos (casou com 18 anos), foi tudo planejado. E até hoje tudo que estou planejando deu certo. Dediquei-me, e ainda dedico a minha vida ao meu filho, para que ele seja um homem de bem. Deixa-me orgulhosa o jeito que ele é, a pessoa extremamente humana, a forma como vê a mulher. Nossas conversas são longas, nem parecemos mãe e filho conversando. Criei um homem totalmente livre de preconceito, assim como eu não tenho nenhum. Não o vejo julgar as pessoas, mesmo sendo um adolescente.”

O rádio

Quanto a sua profissão lembra que virou radialista por necessidade.

“Entrei no rádio no lugar da minha mãe, fazendo serviços gerais, fazia a limpeza e o café. Ela ficou doente, eu já tinha 16 anos e meu irmão ainda era uma criança, conversamos e decidimos que ia assumir para não ficar encostada ou até ser mandada embora. Com alguns meses que estava lá, muito curiosa, aprendi a mexer na aparelhagem, porque os meninos me deixavam lá para irem tomar café, e me ensinaram para poder ficar mais tempo no café. Eu comecei como sonoplasta, porque quando precisaram de um eu já sabia mexer. Foram passando os meses, comecei a falar a hora, depois a falar um quadro, quando de repente, estava com um programa só meu, era só nos finais de semana, depois passou ser à tarde, todos os dias, e depois eu peguei um horário nobre pela manhã, assim eu fiquei 8 anos nessa emissora. Surgiu uma vaga para Rio Verde, me chamaram e aceitei sem nem saber onde era a cidade. Foi assim que entrei para o rádio, já tem 22 anos.

O que ela pensava em fazer mesmo era dançar. “Eu queria dançar, gostava muito e queria ser bailarina. Acontece que no rádio as oportunidades foram aparecendo e eu não fui perdendo. Vir para Rio Verde foi uma fase muito difícil, muito sofrida, porque vim sozinha, tinha só 25 anos, eu já tinha meu filho, já tinha sido casada, e minha mãe já morava comigo. Então para mudar de cidade, vir sozinha primeiro para depois trazê-los foi muito sofrido emocionalmente, financeiramente. Foi uma etapa muito difícil mas eu gosto de falar sobre isso, eu me sinto bem por incentivar as pessoas para aproveitarem as oportunidades mesmo com dificuldades.

 

Rio Verde

O significado só pode ser descrito: “Rio Verde se tornou uma paixão para mim, quando eu cheguei por das pessoas e a situação que eu me encontrava, eu fui bem acolhida. Morei em casa de aluguel, as pessoas viram o que eu passava, eu encontrei muita gente para me ajudar”.

Agora é a cidade de seu coração. “Tudo que eu tenho de mais precioso para a minha vida eu trouxe para Rio Verde que é minha mãe, meu irmão e meu filho. E tudo que eu consegui aqui também: a minha casa, o trabalho que eu amo, um destaque na minha profissão. Eu amo essa cidade, eu não gosto nem de passar férias mais em Ituiutaba. Gosto muito de lá mas não me vejo, nem sinto que lá é meu lugar, é incrível como as coisas acontecem. Eu sou apaixonada por Rio Verde.

Política

A vereadora é reconhecida pelo engajamento no Projeto Cultural Dançando na Praça, bem como no Projeto de Proteção aos animais, que em breve será colocado em prática. É a 1ª Secretaria da Câmara Municipal, é membra do Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais(INBRASCI). Foi concedida como cidadã Rio-verdense, título recebido pelo Vereador Manoel Pereira. E como tudo começou?

“Foi por convite. O pessoal gostou da linha diferente que eu coloquei no rádio, de falar as músicas, os textos ou de brincar e falar até besteira. Isso pegou muito e deu certa popularidade. As pessoas me diziam aquele ditado ‘cumprimenta muita gente dá pra ser vereadora’. Comecei a ser convidada, não aceitei as duas primeiras vezes, mas na terceira me convenceram. Naquele ano me deu tanta vontade que coloquei em perigo o meu trabalho, porque trabalhava numa emissora que era muito política, e eles não queriam que eu fosse para a política, mas eu encarei porque eu achei que aquele poderia ser o momento e quando me dá vontade eu faço. Pelos comentários, eu era incógnita na política e comecei a fazer a minha campanha pelas redes sociais".

Quando perguntada sobre como vê a política hoje, responde: "Estou lá dentro, na metade do meu mandato e eu continuo com a mesma cabeça. Eu não acho que a política tem que ser feita da forma que ela é, mas é claro que eu tenho a consciência de que eu não posso mudar, é um sistema que já acontece a muito tempo e não vai mudar, mas a gente sempre entra com a esperança de que vai mudar alguma coisa. Eu acho que a política tem que ser feita por todo mundo, então a comunidade, o cidadão em si tem que participar da política. Vejo muita crítica, muito 'bafafá', muita conversa, mas não vejo a participação direta desse povo. Quantas vezes faço o convite para as sessões, mas estão vazias, a não ser aquele assunto que a pessoa interessa. Acho que todos tem que participar para saber o que vai acontecer, porque tudo já é colocado no papel. A política não é feita só com políticos, ela é feita pela comunidade inteira, enquanto isso não mudar, não vai mudar a política e o cenário político infelizmente".

Futuro

O que a Andreza não fez que gostaria de fazer?

“Eu gostaria muito de ter um local meu, para acolher animais abandonados, mas meu, nada que seja público ou da política, eu queria fazer isso e eu acho que vou conseguir fazer. E também queria escrever um livro, eu acho muito interessante a minha história e o que aconteceu comigo, eu gosto da minha maneira de ver a vida, eu acho que eu tenho uma autoestima muito boa, eu acho que eu tenho condições de ajudar algumas mulheres que eu vejo por aí, como uma amiga que você dá uma conselho, eu poderia muito bem escrever um livro e colocar isso para compartilhar com outras pessoas a forma que eu vejo a vida”.

E ela ainda contou em primeira mão a nós que tem pensado em ter outro filho. “Acho que a minha vida foi muito corrida e como eu sempre tive que cuidar da minha mãe, eu me dediquei muito a isso e deixei passar o tempo. Mas na verdade biologicamente não, então me caiu a real agora que eu ainda posso, não sei se vai ser possível mas estou com essa vontade. E outra, quero um filho sozinha, sem um pai, quero fazer uma inseminação”.

Ser mulher

Andresa considera que a mulher conseguiu muito. "Pensando desde quando a mulher não poderia votar e hoje a mulher está a frente da política. Mas ainda existe um preconceito muito forte, as pessoas não falam sobre isso, só quem vive sabe. Existe preconceito em todos os setores. A forma como a mulher se comporta ainda é um tabu. Temos o direito sim, mas na política, por exemplo, chama a atenção, não pelo que ela está fazendo, mas pela roupa que está usando, a forma como ela está andando, o lugar que ela frequenta. E com o homem não vejo isso acontecer. Então quando a mulher consegue chegar em algum lugar, sempre alguém vai falar que ela fez alguma coisa, que se envolveu com um homem para conseguir chegar até lá. Essa visão precisa ser mudada. Para as pessoas sempre tem que ter um homem por atrás e nem sempre é assim, as mulheres conseguem chegar pela sua competência em todos os lugares”.

 

Um direito pelo qual lutaria?

"Eu acho que não exatamente um direito, mas acho que a mulher tem que ter a mesma liberdade do homem, sempre, para tudo que quiser fazer, exatamente tudo. Não tem nada que o homem faça que a mulher não possa fazer e eu não vejo isso acontecer. Mas não existe uma lei que a gente possa fazer, não tem nada que a gente possa fazer, é só conscientizar as pessoas. Infelizmente eu estou vendo que está havendo um atraso quanto a isso, pela quantidade de feminicídios dá para se perceber que é um atraso. Acredito e vejo o feminicídio como o machismo extremo do homem achar que a mulher não pode fazer aquilo que ela está fazendo, ou de achar que ela não pode largar ele porque a maioria dos feminicídios são por crimes passionais. Então o homem acha que a mulher é dele, propriedade dele e isso é um absurdo. Não sei se todas, mas a maioria das mulheres já passaram por isso. A mulher sofre muito desde a infância, porque a mulher é muito sexualizada aos olhos de alguns homens. Então se a mulher está na rua, o homem mexe; se está numa festa, pega no seu cabelo; eu acho isso um absurdo, ao invés das coisas se modernizarem e a gente ter cada vez o nosso espaço, estamos perdendo porque isso não muda. Quando a mulher posta uma foto na rede social, ao invés da pessoa prestar atenção no que está falando, comenta sobre a sua perna. As vezes a mulher está ali concentrada no trabalho fazendo algo tão importante e tem pessoas que estão prestando atenção em outras coisas, como o decote por exemplo, e eu acho um absurdo, porque se um homem estiver com a camisa aberta ninguém vai reparar nisso, mas infelizmente é o que existe".

Para concluir:Esse pensamento diferente foi porque você foi criada mais pela sua mãe?

“Não, eu na verdade acho a minha mãe até um pouco frágil quanto a isso, porque o que me fez ter esse pensamento foi como a minha mãe levou a vida dela, a minha mãe sofreu muito com meu pai, ela foi uma mulher extremamente reprimida, a vida dela inteira e eu acho que isso me fez pensar assim. Eu não queria ser como ela, então eu a defendo e me defendo também, quanto a isso no meu pensamento eu me acho com direito de fazer tudo porque eu convivi num lar extremamente machista, o quanto você pensar que é, era mais. Meu pai chegava do trabalho e se tivesse alguma coisa do lugar ele falava, eu via minha mãe sendo uma empregada do meu pai não uma esposa companheira dele, então por isso eu acho que me fez ser assim, porque minha mãe sempre foi muito frágil e eu tive que ser a forte”.

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