quinta-feira, 21 de novembro de 2024

MUNDO

Venezuela: por que não resolveu ainda?

POR Jornal Somos | 17/03/2019
Venezuela: por que não resolveu ainda?

Redação Jornal Somos

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Hugo Chávez era um militar de princípios marxistas. Em fevereiro de 1992, então tenente-coronel, liderou um grupo de cerca de 300 efetivos em um golpe de Estado contra o presidente Carlos Andrés Pérez. Seus partidários justificaram o golpe como uma reação à crise econômica venezuelana, marcada por inflação e desemprego, e causada por políticas econômicas neoliberais adotadas pelo presidente.

 

Depois dessa ruptura constitucional houve uma grande insurreição popular – manifestações do povo já vinham ocorrendo em anos anteriores – especialmente entre os setores mais pobres da população, vindos dos cerros e ranchos de Caracas, conhecidos como as favelas da Venezuela. O exército teve de intervir, o que causou a morte de centenas de pessoas.

 

Apesar de o golpe não ter sido bem sucedido, serviu para tornar Chávez conhecido. No ano seguinte, Pérez foi afastado por suspeita de corrupção. Após cumprir dois anos de prisão, Chávez foi anistiado pelo então presidente Rafael Caldera. Foi quando saiu da vida militar e passou a se dedicar a política.

 

O governo de Pérez foi marcado por políticas neoliberais que usavam a riqueza da Venezuela para beneficiar somente a elite do país. A Venezuela era um dos grandes nomes da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) e apesar de ser um país muito rico na época, o governo de Pérez foi marcado por privatizações. Este modelo de gestão agravou a crise social e o descrédito nas instituições políticas tradicionais por parte da população.

 

Em 1997, Chávez fundou o Movimento V República, ou MVR, que recebeu grande apoio de coligações de esquerda e centro-esquerda, principalmente do Polo Patriótico, e nas eleições presidenciais de 1998, foi eleito com 56% dos votos.

 

Ao tomar posse, convocou uma nova Assembleia Constituinte, e atendendo a plebiscito, 70% dos venezuelanos manifestaram-se favoráveis à Constituinte. Através dela Chávez aumentou seus poderes como presidente, aumentou também os poderes do executivo, e principalmente aumentou o espaço de intervenção do Estado na economia. Também avançou no reconhecimento de direitos culturais e linguísticos das comunidades indígenas.

 

Várias lideranças latino-americanas o apoiaram durante o primeiro mandato. Em 1999, Jair Bolsonaro, na época deputado, afirmou em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo que Chávez era “uma das esperanças da América Latina”.

 

Chávez então investiu na exportação do petróleo e na estatização, de modo que o setor petrolífero ficou sob o domínio público. As medidas em favor da parte mais pobre da população não agradaram a elite venezuelana e os opositores de Chávez. Em abril de 2002, com o apoio dos Estados Unidos, militares adversários do presidente deram um golpe que colocou Pedro Carmona, (presidente da Fedecamaras), como presidente interino da Venezuela.

 

A imprensa privada também teve participação no golpe. Nas semanas que o antecederam a mídia deu total cobertura às manifestações anti-Chávez e ignoraram as manifestações pró-Chávez. Em um dado momento, houve até uma reunião entre os golpistas, inclusive Carmona, nos escritórios da rede de televisão Venevisión. Comunicadores chamam o acontecimento de um “golpe de mídia”, argumentando que a mídia privada realizou auto censura das informações.

 

Segundo membros do governo de Chávez, os radares do país detectaram a presença de navios e aviões militares em território venezuelano. Também confirmaram que no período anterior ao golpe membros do governo de George Bush mantiveram frequentes contatos com líderes golpistas. O governo americano nega.

 

Depois de fortes protestos da população e de partidários de Chávez, além da pressão internacional, já que muitos países não reconheceram Carmona como presidente, em 47 horas após o golpe, Chávez retorna ao poder. Ao retornar, Chávez realiza uma espécie de “caça às bruxas”, cassando aos que tiveram envolvimento em seu golpe, inclusive nos meios de comunicação. A imprensa então fica dividida quanto à interpretação dessas ações. Uma parte era favorável e outra o via como ditador.

 

Atento a isso, Chávez decide investir ainda mais em projetos sociais. A Venezuela seguia exportando seu petróleo e importando tudo o que consumia. Esta também era uma estratégia de boicote aos grandes empresários, que eram opositores do governo.

 

Apesar de Chávez ter conseguido reduzir a pobreza e as desigualdades, a Venezuela entrou em crise. O preço do barril de petróleo, que estava entre U$ 140 a U$ 160, voltou ao preço normal, em torno de U$ 40. Com isso o governo Chávez passou a não conseguir custear as importações.

 

Pouco tempo depois, com a grave enfermidade de Chávez, seu vice Nicolás Maduro assumiu a presidência. Após a morte de Chávez em março de 2013 foram convocadas novas eleições. Maduro foi eleito para um mandato integral.

 

A Venezuela continuava em crise, e Maduro realizou muitas reversões políticas a diversas decisões tomadas por Chávez. A crise só piorava, e o mandato de Maduro foi marcado por crescimento da pobreza, da inflação, dívidas e o declínio socioeconômico do país.

 

Em 2018 Maduro foi reeleito por uma diferença mínima na porcentagem de votos entre ele e seu concorrente. A oposição não reconhece a eleição de Maduro, e é aí que entra Juán Guaidó.

 

Guaidó é atualmente presidente da Assembleia Nacional da Venezuela. Ele é abertamente contrário a posição política do chavismo e de Maduro. Recebe grande apoio da direita política da Venezuela e do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

 

A presidência autoproclamada de Guaidó foi reconhecida por diversos países, inclusive pelo Brasil e pelos Estados Unidos. Porém não foi reconhecida pela Rússia e nem pela China.

 

Apesar da forte oposição à Maduro, a direita venezuelana não quer que haja novas eleições, pois as chances de Maduro ser eleito novamente são muitas. É possível que a direita venezuelana queira que a situação da Venezuela piore, para que enfim Guaidó apareça como um “salvador da pátria”.

 

O risco de invasão militar por parte dos Estados Unidos também é pouco, já que apesar do grande interesse do país no petróleo venezuelano, os americanos têm muito mais a perder nessa invasão, pois a oposição seria apoiada por potências muito fortes. (China e Rússia, possivelmente Coreia do Norte).

 

Dessa forma, é provável que os Estados Unidos queiram instalar na Venezuela uma guerra civil. Nesse cenário novamente, Guaidó, com o apoio estadunidense, seria então visto como um herói. E o apoio dos EUA seria muito bem recompensado...

 

Por ora a situação da Venezuela parece insolúvel. Ainda não se sabe como proceder quanto à população e aos refugiados.

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