quinta-feira, 21 de novembro de 2024

MUNDO

Raw e o horror extremo do crescimento

POR Jornal Somos | 08/09/2018

O filme de estreia de Julia Ducournau mostra canibalismo como metáfora para crescimento

Raw e o horror extremo do crescimento

Redação Jornal Somos

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"Um filme sobre maioridade dirigido pela emoção", "Poderoso... Inteligente... Visceral", "Uma visão inesquecível" e "Maravilhosamente realizado e perturbadoramente erótico". Essas foram apenas algumas das várias frases usadas pela crítica especializada para aclamar o filme Raw (também conhecido como Grave) da novata Julia Ducournau, longa metragem este que estreou no Festival de Cannes de 2016, marcando a exibição por seu horror escancarado e por ter feito pessoas passarem mal e desmaiarem durante a sessão.

 

Todo o horror retratado nesse filme é gerado pelo canibalismo, elemento usado como metáfora para as mudanças e as experiências ocorridas na adolescência para a descoberta de quem realmente o jovem é, traçando sua identidade no meio do caos emocional desses anos brutos de puberdade e amadurecimento. A genialidade do filme pode ser comprovada pelos 17 prêmios que ele ganhou em meio de 38 indicações.

 

A trama se foca em Justine, uma jovem introspectiva e vegetariana que segue as tradições da família e está em transição para a faculdade de medicina veterinária, onde já existe uma grande reputação de sua família em serem os melhores na área e onde também já está a sua irmã mais velha, chamada Alexia. Ao chegar lá, ela se depara com um ambiente totalmente fora da sua zona de conforto, sendo "obrigada" no trote a comer fígado de coelho cru (raw é cru em inglês, daí o título).

 

Depois de ter comido carne pela primeira vez (e da pior forma que poderia), ocorre um despertar de fome nela que só pode ser saciado com carne humana, metáfora para o despertar sexual da garota que também acontece em segundo plano. Após esse acontecimento, ela participa também de festas e se torna a cada vez mais confiante, item perceptível até mesmo no jeito que a personagem passa a andar. Intercalando cenas românticas com canibalismo, planos sequências dinâmicos de festas, takes de animais mortos sendo estudados nas aulas e planos claustrofóbicos sob um cobertor, o filme retrata com uma criatividade enorme uma evolução.

 

O ápice da confiança de Justine é retratada na cena em que ela se veste e se maqueia para sair enquanto dança na frente do espelho e beijando o seu reflexo, tudo isso com "ORTIES - Plus putes que toutes les putes", música mórbida sobre sedução. Os últimos 30 minutos do filme servem para mostrar as consequências das atitudes tomadas pela personagem na primeira parte do filme, afetando diretamente a personalidade da garota, que volta a ser mais reclusa mas continua poderosa e adulta.

 

Depois de várias lições estranhas com a sua irmã e um acontecimento inesperado com esta, vem o final do filme, em que há uma revelação impactante que deixa uma pergunta: "Esse é o final ou é apenas um prelúdio de um recomeço?". Com o seu filme de estreia, Julia consegue o que vários diretores não conseguem em anos de cinema: um terror que não serve apenas para chocar, mas além de ir além dos jumpscares (os sustos que te fazem pular da cadeira), também traz toda uma história subliminar e factual por trás do sangue e carnificina.

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