sábado, 23 de novembro de 2024
Redação Jornal Somos
Um grupo de cientistas estudou uma área do cérebro que pode influenciar a forma como assimilamos opiniões contrárias.
A neurocientista Tali Sharot fez uma investigação para tentar responder as perguntas como “porque é que desenvolvemos um cérebro que descarta informações válidas quando estas informações não se encaixam na visão do mundo? Será uma falha na evolução humana?”.
Na tentativa de responder essas questões, Sharot realizou um conjunto de experiências para tentar mostrar que o cérebro se recusa a aceitar a opinião de alguém que o contradiga, por mais convincente e válida que possa ser.
A pesquisadora colocou os participantes para jogar a um gênero de Preço Certo, com o valor de vários imóveis, cada participante recebiam um preço e precisavam decidir se é mais alto ou mais baixo e determinar se apostariam um valor mais alto ou mais baixo, entre um a 60 centavos.
O estudo tinha o objetivo de avaliar o grau de confiança das decisões de cada um. Foram mostradas em seguida as decisões dos companheiros e era dada a opção de mudar a quantia apostada.
Os resultados não foram uma surpresa para os cientistas. Quando algum deles dava razão, o outro aumentava a aposta. Se existisse alguém muito seguro de sua aposta, então havia muito mais apostas a serem alteradas.
O mesmo não acontecia quando alguém apostava o contrário. “Descobrimos que quando as pessoas discordam, os cérebros não conseguem registrar a força da opinião da outra pessoa, o que lhes dá menos motivos para mudarem de opinião”, contou Andreas Kappes, investigador da Universidade de Londres e coautor do estudo.
“As nossas descobertas sugerem que mesmo que os argumentos sejam muito elaborados do outro lado, não vão convencer as pessoas mais motivadas, porque a discordância é suficiente para rejeitá-la. O não cumprimento da qualidade do argumento torna menos provável a mudança de pensamento”, acrescenta Kappes. Citada por El País, Tali Sharot afirma que os cientistas deram um grande passo na compreensão do funcionamento do cérebro.
Liderada por Sharot, a equipe de cientistas observou a atividade cerebral dos participantes recorrendo a ressonâncias magnéticas.
A área estudada foi concentrada na região do córtex pré-frontal, que é ativada quando se fala em confiança ou qualidade dos argumentos apresentados, o que nos pode levar a mudar de opinião ou de crenças.
Um dos cientistas explica que, se um indivíduo ouvir um médico muito confiante sugerir um tratamento, o cortéx pré-frontal rastreia a confiança do médico e leva o indivíduo a ajustar a sua opinião de acordo com a crença que tem em relação à forma como se deve tratar.
Ele também afirma que o estudo não está completo ainda, já que ainda não foi possível perceber por que motivo “as pessoas discordam e o cérebro não, dando às pessoas poucas razões para mudarem de ideias”.
“A tendência comportamental de descartar informações discrepantes tem implicações significativas para os indivíduos e para a sociedade, porque pode gerar a polarização e facilitar a manutenção de falsas crenças”, conclui.
A especialista em autoenganos da mente, Susana Martínez-Conde, contou a El País que “este estudo é um bom primeiro passo para estudar os mecanismos de viés de confirmação, porque eles encontram uma correlação com as diferenças dessa região do cérebro, mas isso ainda não explica a discrepância entre a nossa opinião e as evidências que nos contradizem.”
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