A personal trainer e fisiculturista Kely Moraes, de 45 anos, passou por uma situação de constrangimento e violência verbal em uma academia no bairro Boa Viagem, zona sul do Recife, nesta segunda-feira (26). Ela foi impedida de utilizar o banheiro feminino após ser confundida com uma mulher trans.

Segundo Kely, a confusão começou quando uma aluna tentou barrar sua entrada no banheiro, alegando que "aquele não era um lugar para homem". "Eu achei que ela estivesse brincando, mas logo vi que ela falava sério", relatou a profissional.

A situação se agravou quando um homem que acompanhava a aluna reforçou os ataques verbais e também tentou impedir o acesso de Kely ao espaço. Um vídeo que circula nas redes sociais mostra parte do episódio, onde uma aluna grávida sai em defesa de Kely, pedindo que ela mostrasse sua identidade.

Durante o confronto, o homem afirmou que havia um "banheiro inclusivo" no andar inferior que seria “para ela”. Kely rebateu: “Eu sou o quê?”, e ele respondeu: “Mulher inclusa.”

A fisiculturista contou que já enfrentou outros episódios de preconceito por conta de seu porte físico, mas que este foi o mais grave. “O mais assustador foi ver a convicção dela. Nem por um segundo ela cogitou que estava errada. E ainda teve gente ao redor que acreditou nela e mandou eu me calar”, desabafou.

A academia informou que abriu um procedimento interno para apurar os fatos. Kely também registrou um boletim de ocorrência na Delegacia de Boa Viagem. O caso está sendo investigado pela Polícia Civil como injúria e constrangimento ilegal.

Nas redes sociais, a personal recebeu apoio de centenas de seguidores. Em um vídeo publicado, ela desabafa: “Eu não tenho que provar nada pra ninguém. Estudei, trabalho, sou digna. Por que não posso ir ao banheiro?”

Kely pretende processar judicialmente o casal envolvido na agressão. Até o momento, eles não foram localizados.

O Brasil não possui legislação específica que regulamente o uso de banheiros por pessoas trans. Em 2024, o Supremo Tribunal Federal decidiu, por 8 votos a 3, não julgar o mérito de um caso em que uma mulher trans foi impedida de usar o banheiro feminino de um shopping, alegando ausência de questão constitucional. A decisão foi técnica e não tratou diretamente do direito ao uso do banheiro segundo a identidade de gênero.

Entidades que representam a população trans seguem cobrando esse reconhecimento legal e social.

Com informações de CNN Brasil.