segunda-feira, 08 de julho de 2024

MUNDO

Homens impedem a soltura de 26 mil crocodilos durante ciclone em Moçambique

POR Jornal Somos | 26/03/2019
Homens impedem a soltura de 26 mil crocodilos durante ciclone em Moçambique

LUSA

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Em meio ao ciclone Idai que devastou Moçambique, uma quinta com 26 mil crocodilos, do português Manuel Guimarães, teve seus muros derrubados. Só que 40 "homens magníficos" impediram a saída dos animais e uma "desgraça terrível". Passada mais de uma semana após o ciclone, que provocou centenas de mortes e milhares de desalojados, devido ao vento e às cheias, pouca gente sabe que foram esses 40 homens que impediram que andassem agora 26 mil crocodilos à solta na zona da Beira.

Agora que a chuva parou e a quinta já não está cercada pelas águas, Manuel Guimarães voltou na segunda-feira ao local, Nhaugau, distrito da Beira, emocionado por ver como uma noite de vento lhe destruiu dez anos de trabalho. Lá estavam os homens, cortando as árvores, limpando a terra e repondo o que é possível repor.

 

Os 40 trabalhadores colocaram nesse dia chapas isotérmicas junto da cerca dos crocodilos feita de tijolos e cimento, especialmente perto dos maiores crocodilos, e aguardaram o Idai. Nenhum arredou pé, nenhum foi para junto das famílias.

 

E na noite de quinta-feira, 14 de Março, pelas 22h, quando o Idai chegou encontrou os 40 ali, sentados ou deitados por causa da força do vento. "Não foi fácil, falar disto dói muito. Cada um pensava, eu vou perder a minha família, os meus filhos, para defender um crocodilo. Doeu, porque duas noites perdidas não é fácil".

 

Foram duas noites sem dormir, mas especialmente difícil a noite do ciclone, como Anísio conta à Lusa, ao lado do muro dos grandes crocodilos, que o vento conseguiu derrubar e que agora está substituído por chapas. Noite adentro, quando o muro cedeu, eles estavam prontos empurrando as chapas, cortando bambus para segurá-las. E às 5h de sexta-feira o vento amainava e os crocodilos estavam nos seus tanques.

 

"Estávamos fazendo nosso salário, para próximos anos, não só deste mês de Março. Imagina que todos os crocodilos saíssem, eu não estava aqui, estava na minha casa porque não havia serviço", diz agora o chefe daquelas 40 pessoas. Já passou mais de uma semana e Manuel Guimarães, 63 anos, ainda se emociona quando fala dos seus "40 magníficos".

 

"É graças a esses 40 homens, que nunca mais podemos esquecer que não temos uma desgraça para a empresa, porque 26 mil crocodilos são muitos milhares de dólares, e uma desgraça para a população, porque já imaginaram o que seria 26 mil crocodilos aí à solta? Seria terrível. Felizmente graças a eles estamos aqui, podemos falar disto que aconteceu", diz à Lusa.

 

 Há 25 anos, Manuel Guimarães veio por três meses, para exportar camarão. Hoje é um dos maiores criadores de gado de Moçambique, exporta camarão para Portugal, as suas empresas foram distinguidas como as segundas maiores pequenas e médias empresas no âmbito da exportação e da exportação de produtos de mar. O projeto dos crocodilos foi pensado para minimizar a perda de vidas humanas e, mediante um acordo com o Governo, foram recolhidos ovos para desenvolver a quinta. As peles e os produtos derivados são vendidos para Portugal, Itália, Coreia do Sul e Japão.

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