quinta-feira, 21 de novembro de 2024
Redação Jornal Somos
Dois dias após o início de um levante da oposição para derrubar o presidente venezuelano Nicolás Maduro, o dia será crucial para entender o quão longe irá a rebelião de Juan Guaidó, autoproclamado presidente desde janeiro. O líder da oposição convocou para esta quinta-feira (02) o início de uma greve “escalonada” contra o governo, que deve começar pelos funcionários públicos e espera que se torne geral nos próximos dias.
A crise na Venezuela ganhou um novo capítulo na terça-feira, 30 de abril, quando a região amanheceu com a notícia de que Leopoldo López, outra liderança de oposição a Maduro, havia sido liberado de sua prisão domiciliar por Guaidó e um grupo de militares que se rebelaram contra o governo Maduro. López estava preso desde 2014 (desde 2017 em prisão domiciliar) e, após aparecer ao lado de Guaidó após sua liberação, refugiou-se na embaixada do Chile e, em seguida, na da Espanha.
A ação ocorreu um dia antes do 1º de maio, data para a qual Guaidó já havia marcado protestos do Dia do Trabalho contra o governo. Atos contra e a favor de Maduro tomaram a capital Caracas nesta quarta-feira, mas os atos de Guaidó não levaram às ruas a multidão que a oposição previa. Ao mesmo tempo, há uma forte repressão do governo Maduro, com pelo menos dois mortos e mais de 80 feridos. Na terça-feira, um vídeo mostrou tanques literalmente passando por cima de manifestantes.
Forças do exterior também desempenham papel importante nessa queda de braço. Maduro é apoiado pela Rússia, que vem oferecendo apoio logístico e financeiro. Enquanto isso, Guaidó foi reconhecido presidente por mais de 40 países ao prometer convocar eleições. À medida em que as tensões aumentam, há o temor de que haja uma guerra civil na Venezuela, ou uma eventual intervenção dos Estados Unidos. Militares americanos declararam nesta quarta-feira que apoiam o “processo democrático”.
Na sexta-feira, países do Grupo de Lima, como Brasil, Chile e Argentina, também reúnem-se para discutir a crise. O governo do presidente Jair Bolsonaro apoia Guaidó, mas também descartou intervenção na Venezuela.
Há uma guerra de versões sobre a Venezuela neste momento. Não se sabe qual o real apoio da população à tentativa de golpe da oposição, nem quantos militares além dos que ajudaram a libertar López estão dispostos a de fato desembarcar do governo Maduro.
Guaidó insiste que não é um golpe de Estado, antes uma rebelião pacífica, mas a série de acontecimentos e declarações que no dia 30 de abril se produziram apontam para uma disputa subentendida, envolvendo EUA e Rússia, que só nos próximos tempos será totalmente esclarecido.
Uma das principais questões é a suposta vontade de Nicolás Maduro em abandonar o poder, no que terá sito travado pela Rússia. O secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, falando à CNN, disse que Maduro e líderes de seu governo estavam preparados para voar para Cuba na manhã de terça-feira, existindo já "um avião na pista", mas que a Rússia, um poderoso aliado do líder venezuelano, "indicou que ele deveria ficar". Pompeo não apresentou provas.
Numa comunicação ao final do dia, Juan Guaidó confirmou o mesmo. "A informação é verdadeira, o usurpador tinha tudo pronto para ir e foram as forças estrangeiras que o forçaram a ficar", escreveu Juan Guaidó na sua conta de Instagram. Essa informação não foi confirmada por Nicolás Maduro.
Nicolás Maduro já desmentiu a suposta vontade de abandonar o poder, durante uma comunicação aos venezuelanos na noite de terça-feira. Mas do lado opositor, até se apontam nomes envolvidos numa eventual transição de poder. Nos EUA, John Bolton, conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, disse que altos funcionários do governo de Maduro comprometeram-se a transferir o poder para Guaidó.
As autoridades brasileiras ainda tentam entender o que realmente levou o autoproclamado presidente da Venezuela, Juan Guaidó, a agir na terça feira como se contasse com adesão militar.
Quando Guaidó convocou os atos de protesto na expectativa de derrubar do poder Nicolás Maduro ele afirmava ter conquistado o apoio de militares. Após os protestos acredita-se que Guaidó possa ter confiado em um acordo que não se concretizou.
A tentativa de Guaidó, no entanto, já resultou em “nítido desconforto de Maduro", analisa um importante militar do Palácio do Planalto. Ainda segundo a análise desse militar, o Brasil acabou ficando a “reboque dos Estados Unidos”, sem protagonismo nessa busca de solução para a crise venezuelana.
O apoio a Guaidó, foi “sem análise de riscos e, talvez, não tenha sido a melhor decisão. Mas já não se pode voltar atrás”. O rescaldo da crise venezuelana, no Brasil, vai muito além da fronteira e das declarações das autoridades, em público.
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