quinta-feira, 21 de novembro de 2024
Redação Jornal Somos
Projeto Famílias Interrompidas pretende dar apoio a parentes de vítimas de homicídios. Iniciativa foi de uma juíza da Comarca da cidade e recebeu a aprovação dos envolvidos.
Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO) começou, neste mês, um projeto para dar apoio psicológico e jurídico para familiares de vítimas de homicídios, em Luziânia, no Entorno do Distrito Federal. A iniciativa, chamada de “Famílias Interrompidas” começou se reunindo com parentes dos sete adolescentes abusados sexualmente e mortos pelo pedreiro Adimar de Jesus Santos, em 2009, na cidade. De acordo com Bom Dia Goiás.
Adimar foi preso em 10 de abril de 2010, quando confessou ter matado os jovens, e foi encontrado morto oito dias depois, na cela da Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos (Denarc), em Goiânia. O laudo do Instituto Médico Legal (IML) concluiu que ele havia se matado. Com a morte dele, o processo judicial foi extinto.
Em uma entrevista a juíza Renata Farias Costa Gomes de Barros, diretora do foro e coordenadora da iniciativa, explicou que a ideia do projeto surgiu em outros casos acompanhados por ela, em que muitas pessoas precisavam não só de um melhor esclarecimento sobre os trâmites do processo, mas também de apoio psicológico.
“Durante a audiência, que é o contato que tenho com a vítima, quando é caso de tentativa de homicídio, ou com familiares, em homicídios consumados, percebi que as pessoas queriam falar, não só na forma como testemunha. Mas pelo próprio rito e pela necessária imparcialidade, não caberia a mim, durante a audiência, agir com proximidade à vítima ou com a família da vítima”.
“No caso das vítimas do Adimar, eu não era juíza do caso. Como o autor confesso dos crimes morreu, para as famílias, não houve julgamento. Eu ouvi de alguns: ‘achei que o Estado havia se esquecido de mim’”, disse a juíza.
O Projeto Famílias Interrompidas começou na última sexta-feira (13), em uma reunião no Fórum de Luziânia. Durante o encontro, as famílias das vítimas puderam expor angústias, preocupações e compreender a forma como o processo tramitou e, baseado na lei, o que provocou a sua extinção.
A juíza explica que, durante as atividades do projeto, as famílias recebem o apoio de facilitadores, como a projetista e instrutora Maria Lúcia de Castro e o psicólogo Jairan Oliveira dos Santos. Renata Barros afirmou que a iniciativa surgiu embasada no conceito de “justiça restaurativa”, que consiste em ir além do trâmite tradicional de um processo.
“No desenrolar dos processos, passei a encaminhar pessoas que muitas vezes tinham dificuldades para entender alguns conceitos da Justiça. Na audiência, por exemplo, eu explico as etapas do processo para todas as partes. Mas, pelo rito que a função e a lei me exigem, muitas vezes passei a encaminhar algumas pessoas para ciclos da Justiça Restaurativa.”
“Muito além de compreender o processo, a sentença, muitas vezes, não vai resolver para ao familiar que perdeu a vítima. No entanto, falar sobre isso pode ajudá-lo, daí a necessidade do projeto”, contou.
Famílias Interrompidas
Os participantes do primeiro ciclo de debates foram mães, pais, irmãos e outros parentes dos sete adolescentes que foram encontrados mortos no início de 2010.
O mistério do desaparecimento das vítimas em Luziânia começou em 30 de dezembro de 2009. O primeiro da série de jovens a sumir foi Diego Alves Rodrigues, de 13 anos, seguido por Paulo Vitor de Azevedo Lima, de 16 anos, que não voltou para casa desde 4 de janeiro, George Rabelo dos Santos, 17 anos, que sumiu em 12 de janeiro. Divino Luiz Lopes, de 16 anos, sumiu no dia seguinte; Flávio Augusto Fernandes, 14 anos, desapareceu em 18 de janeiro. Márcio Luiz Souza Lopes, 19 anos, sumiu em 22 de janeiro, e Eric dos Santos, 15 anos, em 20 de março.
Segundo a polícia, todos teriam sido mortos na mesma data do desaparecimento. Mas, enquanto as famílias não encontravam os restos mortais de cada um deles, a esperança da vida ainda existia.
O irmão mais velho de George Rabelo, o terceiro adolescente a desaparecer, disse que o nome do projeto faz jus à forma como a rotina e as perspectivas da família dele foram “interrompidas”. Cleiton Rabelo de Souza afirma que a mãe, mesmo 9 anos depois do crime, vive sob efeito de medicamentos e se mudou para a zona rural para ficar longe da sociedade.
“O projeto foi uma iniciativa muito boa, porque são nove anos que se passaram, ficam perguntas sem respostas. Pensaríamos todos nós que estaríamos esquecidos”, disse.
Cleiton, que é pintor, conta que, ao contrário da mãe, conseguiu, mesmo com o sofrimento e a dor da perda do irmão, prosseguir a vida dele. Ele afirma que a mãe dele, ao longo de todos os anos, nunca havia tido a oportunidade de falar sobre a morte do filho e agora, graças à iniciativa, poderá ter amparo profissional para a superação dos traumas.
Em nota ao Jornal Somos, a comunicação do Centro de Referência Especializada de Assistência Social- CREAS informou que quando há casos como o de Luziania aqui na cidade, é feito um acompanhamento psicossocial com as famílias ou vítimas de violências juntamente com outros acompanhamentos para que possam sentir total apoio do orgão, além da superação dos casos.
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