quinta-feira, 21 de novembro de 2024
Redação Jornal Somos
O contraventor Carlos Augusto de Almeida Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira, mesmo cumprindo pena em regime semiaberto por fraudes na Lotérica Carioca, participou da festa de aniversário de 2 anos da filha. Vídeos publicados em redes sociais mostram ele na celebração, que ocorreu nesta quinta-feira (21) no Centro Municipal de Educação Infantil (Cmei) do Jardim Itaipu.
Advogado do Cachoeira, Cleber Lopes afirmou que o seu cliente não infringiu nenhuma lei ao comparecer à comemoração.
“Ele tem autorização para circular na Grande Goiânia com a tornozeleira. Se você me perguntar se ele pode ir na festa de aniversário da filha, eu não sei te dizer. Agora, acho desumano ele ir passar para dar um beijo na filha dele durante o aniversário dela e isso virar notícia”, afirmou.
A Diretoria-Geral de Administração Penitenciária (DGAP) informou, por meio de nota, que o preso precisa estar na empresa onde trabalha de segunda a sábado entre 8h e 21h e, nos demais dias e horários, precisa ficar recolhido em casa.
O órgão disse que não tinha conhecimento de que Cachoeira estava na festa, e que a “direção da Colônia do Regime Semiaberto vai instaurar Procedimento Administrativo Disciplinar” para que ele possa se explicar. Também de acordo com a nota “o juiz da Vara de Execução Penal também será comunicado da denúncia”.
O Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO) informou que o juiz Oscar de Oliveira Sá Neto, responsável pela sentença do bicheiro em Goiás, não irá se pronunciar.
A empresa em que Cachoeira trabalha informou que ele "trabalhou normalmente de acordo com as funções que ele exerce na empresa e solicitou compensar o horario de almoço para estar com a filha em uma creche carente". Ainda conforme o texto, o pedido foi autorizado "de pronto" e que "não foi uma festa , e sim uma ação beneficiente".
A Secretaria Municipal de Educação e Esporte de Goiânia (SME) informou que o uso do Cmei para a festa “contraria as orientações repassadas por esta Secretaria e que já instaurou o processo de sindicância para apuração dos fatos”. Segundo a nota, o órgão determinou o afastamento da diretora da instituição.
Condenação
Condenado a 6 anos e 8 meses em regime fechado por fraudes na loteria carioca, Cachoeira obteve junto ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) diminuição da pena para 4 anos e progressão para o semiaberto. Por isso, ele passou a ser monitorado por meio de uma tornozeleira eletrônica e começou a trabalhar como coordenador comercial em uma empresa de distribuição de material hospitalar e farmacêutico, situada no Polo Industrial. O salário é de R$ 6,5 mil.
A transferência do bicheiro para o regime semiaberto ocorreu apesar do preso responder por processo disciplinar por planejar um churrasco no Núcleo de Custódia do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia. Servidores envolvidos na ação, que teriam autorizado entrada de carnes, mandioca e tomate, foram afastados, segundo a DGAP.
Cachoeira deve passar o expediente na empresa e dormir na casa em que mora com a família, no Residencial Alphaville Cruzeiro do Sul, condomínio de luxo de Goiânia.
A DGAP havia informado na época que, de acordo com carta de emprego e pedido de dilatação de horário protocolado na Vara de Execução Penal, Cachoeira pode trabalhar até as 21h. Ele não pode ingerir bebida alcoólica. Além do serviço, está liberado para ir a consultas médicas e odontológicas, além de audiências judiciais.
Fraudes na Loteria
Em 2012, Cachoeira e Waldomiro Diniz, ex-assessor do Palácio do Planalto, foram condenados a 8 e a 12 anos de prisão, respectivamente, pela 29ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, por corrupção e fraude em uma licitação da Loteria do Estado do Rio de Janeiro (Loterj).
Segundo a denúncia do Ministério Público do Rio, Waldomiro Diniz pediu R$ 1,7 milhão ao empresário como propina - o dinheiro também teria sido usado para abastecer campanha eleitoral de políticos.
Em troca, acrescenta o MP do Rio, Cachoeira obteve a alteração de um edital de licitação para se favorecer.
Na mesma decisão em que pediu a prisão imediata de Cachoeira, o ministro Nefi Cordeiro rejeitou um outro pedido do Ministério Público, para execução da pena de Waldomiro, por entender que ainda há recurso pendente de análise na Justiça.
Prisões anteriores
Cachoeira já foi condenado por crimes como contrabando de caça-níqueis, peculato, corrupção, violação de sigilo e formação de quadrilha.
O bicheiro foi preso pela primeira vez em 29 de fevereiro de 2012, na Operação Monte Carlo. De acordo com a Polícia Federal, ele comandava um esquema de jogos de azar em Goiás e no Distrito Federal, com envolvimento de políticos.
Após nove meses, Cachoeira deixou o presídio da Papuda, em Brasília, beneficiado por um alvará de soltura expedido pela 5ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Na época, ele foi condenado na Operação Saint-Michel, um desdobramento da Monte Carlo, que apurou o envolvimento de agentes públicos e empresários em uma quadrilha que explorava o jogo ilegal e tráfico de influência também em Brasília.
Duas semanas depois, em 7 de dezembro, Cachoeira foi preso novamente após ser condenado a 39 anos de prisão por peculato, corrupção ativa, violação de sigilo e formação de quadrilha. Entretanto, conseguiu um habeas corpus e deixou a cadeia quatro dias depois.
Cachoeira voltou a ser preso no dia 30 de junho de 2016, no condomínio de luxo onde mora em Goiânia, pela Operação Saqueador, da Polícia Federal (PM) e do Ministério Público Federal (MPF). A ação apurava lavagem de dinheiro e desvio de verbas em obras públicas. A investigação apontou um esquema que desviou R$ 370 milhões de cofres públicos.
Conforme o MPF, na época, Cachoeira era responsável por criar empresas e contratos fictícios com a construtora Delta. O valor era sacado e usado para pagamento de propinas. Logo após a deflagração da operação, o MPF informou que pedia a condenação dos envolvidos por lavagem de dinheiro e associação criminosa, além de solicitar a reparação dos danos causados.
Após a prisão, ele foi levado para o Rio de Janeiro, onde ficou por pouco mais de um mês. No dia 17 de agosto, ele teve a prisão preventiva convertida em domiciliar e foi levado de volta para a capital goiana. O pedido de habeas corpus da defesa do contraventor já havia sido feito ao Tribunal Regional Federal da 2ª Região, no Rio de Janeiro, que javia negado a solicitação.
Fonte: G1 Goias
Jornal online com a missão de produzir jornalismo sério, com credibilidade e informação atualizada, da cidade de Rio Verde e região.