quarta-feira, 29 de outubro de 2025
Motoristas de ônibus, gerentes e escriturários de banco, técnicos de enfermagem e vigilantes formam o grupo de trabalhadores com mais afastamentos por problemas de saúde mental reconhecidos como doença ocupacional no Brasil. Os dados são do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e se referem ao período de 2012 a 2024, conforme levantamento do Smartlab, plataforma que reúne informações de órgãos públicos.
O benefício conhecido como B91 é concedido quando a doença é provocada pelas condições de trabalho. Já o B31 se refere ao auxílio-doença comum, pago em casos de enfermidades sem relação direta com a profissão. A definição de qual benefício será pago é feita por meio das perícias médicas do INSS.
Motoristas lideram o ranking de afastamentos
Entre os motoristas de ônibus, foram registrados 6.034 benefícios B91 e 23.409 B31 por motivos ligados à saúde mental. Isso significa que, para cada dez afastamentos, oito não foram reconhecidos como relacionados ao trabalho.
No caso dos técnicos de enfermagem, a proporção é ainda menor: apenas 8,17% dos mais de 48 mil pedidos tiveram o vínculo ocupacional reconhecido.
Já entre os gerentes de banco, o cenário se inverte. Quase quatro em cada dez afastamentos (37,7%) foram classificados como doença ocupacional.
Por outro lado, os escriturários de banco — cargo inicial na maioria das instituições financeiras — tiveram apenas 18,7% dos afastamentos reconhecidos como ligados à profissão.
“Estamos diante de uma epidemia silenciosa, provocada por um ambiente de trabalho que adoece, com metas abusivas e cobranças desumanas para gerar lucros bilionários”, afirma Neiva Ribeiro, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região.
Crescimento expressivo em 2024
O número total de afastamentos por transtornos mentais disparou no país. De 2023 para 2024, os casos subiram de 283 mil para 471 mil, um aumento de 66%.
Especialistas apontam que o avanço da tecnologia e a cobrança por resultados têm ampliado os casos de sofrimento psíquico entre trabalhadores.
“Hoje, os problemas estão ligados à dificuldade em atingir metas, à falta de reconhecimento e à baixa autoestima”, explica Paulo Rogério Albuquerque, doutor em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília.
Reconhecimento ainda é desafio
A médica Maria Maeno, pesquisadora da Fundacentro (ligada ao Ministério do Trabalho), afirma que ainda é difícil comprovar a relação entre o transtorno mental e o ambiente profissional.
Além disso, o número de benefícios represados no INSS também preocupa. Atualmente, 2,6 milhões de pedidos aguardam análise, reflexo da limitação de orçamento e da sobrecarga do sistema.
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