sábado, 03 de maio de 2025
Foto: Agência Brasil
As enchentes severas que atingiram o Rio Grande do Sul em 2024 podem deixar de ser exceções e se tornar uma realidade recorrente. Segundo estudo da Agência Nacional de Águas (ANA), tragédias que costumavam ocorrer a cada 50 anos devem acontecer a cada 10 anos no Brasil, e com maior intensidade. A causa principal: as mudanças climáticas aceleradas pela ação humana.
Estudo aponta aumento de até 20% na vazão dos rios
O relatório “As enchentes no Rio Grande do Sul: lições, desafios e caminhos para um futuro resiliente”, feito em parceria com universidades como UFRGS e UnB, além do Serviço Geológico do Brasil, projeta que a vazão dos rios no RS pode aumentar em cerca de 20% sobre os picos já registrados.
Esse novo cenário exige ação imediata: o planejamento urbano, as obras de infraestrutura e os sistemas de gestão de risco precisam ser atualizados para evitar novas tragédias.
Estado mais vulnerável do país
O Rio Grande do Sul é apontado como a região brasileira que sofrerá o maior aumento na frequência e gravidade das cheias. Fatores como a alta velocidade de resposta das bacias hidrográficas e a elevação histórica da temperatura global — 2024 foi o ano mais quente já registrado — agravam a vulnerabilidade do estado.
Cidades como Porto Alegre, Guaíba, Eldorado do Sul, Pelotas e Rio Grande deverão lidar com níveis de água até um metro acima da atual capacidade de proteção. Em áreas serranas, como os vales dos rios Taquari e Jacuí, esse aumento pode chegar a três metros em eventos extremos.
2024: ano da tragédia histórica
Durante as enchentes de 2024, Porto Alegre viu o rio Guaíba atingir 5,35 metros — mais de dois metros acima da cota de inundação. Bairros inteiros foram alagados. Já em Lajeado, o nível do rio Taquari chegou a 33,67 metros, varrendo comunidades inteiras.
O saldo da catástrofe foi devastador: 184 mortes, 27 desaparecidos, mais de 800 feridos e 2,4 milhões de pessoas afetadas. Quase todos os municípios do estado (478 de 497) foram atingidos. Os prejuízos somaram R$ 35,6 bilhões e causaram a perda de 152 mil empregos.
Orçamento reduzido para prevenção
Apesar do cenário alarmante, o Congresso Nacional cortou R$ 380 milhões da verba destinada à gestão de riscos e desastres urbanos para 2025. O valor originalmente proposto era de R$ 1,75 bilhão, mas foi reduzido para R$ 1,37 bilhão. Por outro lado, o governo precisou desembolsar R$ 5 bilhões em créditos extraordinários para lidar com os desastres de 2024.
Para o Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos), a redução é preocupante e contradiz os esforços de adaptação climática. “A atuação reativa através desses créditos não é a melhor solução”, afirmou Sheilla Dourado, assessora do instituto.
Investimentos em infraestrutura e plano de resiliência
O governo do Rio Grande do Sul afirma que está atualizando projetos de proteção contra cheias, com destaque para os sistemas de Eldorado do Sul e do Arroio Feijó, em Porto Alegre e Alvorada. Nesta semana, foi lançado um edital para modernizar o sistema de Eldorado do Sul.
Além disso, o estado criou o Plano Rio Grande, um programa voltado à reconstrução e preparação para desastres futuros. Segundo a gestão estadual, R$ 6,9 bilhões já foram investidos em projetos diversos. O plano conta ainda com um Comitê Científico com 41 especialistas em adaptação e resiliência climática.
Enquanto isso, o governo federal afirma que os programas de gestão de riscos envolvem diversas áreas e que o uso de créditos extraordinários foi necessário diante da magnitude dos eventos climáticos recentes.
Jornal online com a missão de produzir jornalismo sério, com credibilidade e informação atualizada, da cidade de Rio Verde e região.