quarta-feira, 12 de novembro de 2025

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SILENCIOSA, NEGLIGENCIADA E PERSISTENTE: ASSIM PODE SER DEFINIDA A DOENÇA DE CHAGAS

POR Cairo Santos | 11/11/2025
SILENCIOSA, NEGLIGENCIADA E PERSISTENTE: ASSIM PODE SER DEFINIDA A DOENÇA DE CHAGAS
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A cada ano, cerca de 14 mil pessoas morrem em decorrência da doença de Chagas no mundo, e o Brasil, apesar dos avanços no controle da transmissão, ainda concentra a maior parte dessas mortes, mantendo-se como epicentro global da enfermidade.

 

A doença de Chagas, é uma infecção parasitária causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, transmitida principalmente pelo inseto barbeiro. Embora os números globais mostrem uma queda nos casos nas últimas décadas, o impacto da doença continua alarmante: 14 mil mortes por ano em todo o mundo e mais de 10 milhões de pessoas vivendo com a enfermidade.

 

No Brasil, a situação é paradoxal. O país conseguiu reduzir significativamente a transmissão vetorial, mas ainda concentra 68% das mortes globais por Chagas. Estima-se que 4,1 milhões de brasileiros convivam atualmente com a doença, muitos deles sem diagnóstico ou acompanhamento adequado. A enfermidade, que pode permanecer assintomática por anos, frequentemente evolui para complicações cardíacas graves, tornando-se uma das principais causas de insuficiência cardíaca em regiões endêmicas.

 

Além da transmissão pelo barbeiro, o Brasil enfrenta desafios adicionais: surtos por ingestão de alimentos contaminados, como caldo de cana e açaí, continuam sendo registrados. Essa forma de transmissão oral, mais difícil de controlar, reforça a necessidade de vigilância constante e políticas públicas eficazes.

 

A doença de Chagas é classificada pela Organização Mundial da Saúde como uma doença tropical negligenciada, o que significa que recebe menos atenção e recursos do que deveria, apesar de sua alta carga de mortalidade e impacto social. No Brasil, ela afeta principalmente populações rurais e vulneráveis, perpetuando ciclos de pobreza e exclusão.

 

Se por um lado há avanços científicos — como novas técnicas de imagem capazes de prever complicações cardíacas precoces — por outro, persiste o desafio da invisibilidade social e política da doença. Para muitos brasileiros, Chagas ainda é uma realidade cotidiana, mas pouco discutida fora dos círculos acadêmicos e de saúde pública.

 

Em um país que lidera o ranking mundial de mortes por Chagas, é urgente transformar a invisibilidade em ação. Investir em diagnóstico precoce, ampliar o acesso ao tratamento e fortalecer campanhas de prevenção são passos fundamentais para que o Brasil deixe de ser o epicentro de uma tragédia silenciosa que ceifa milhares de vidas todos os anos.

 

Este texto não reflete necessariamente a opinião do Jornal Somos.

 

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