quarta-feira, 19 de novembro de 2025
Foto: Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados
Na noite de ontem, 18, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto antifacção, uma medida que promete combater fraudes e irregularidades em diversas esferas, especialmente no setor público. Embora a proposta apresente intenções louváveis, é fundamental analisar criticamente suas implicações, evitando que a urgência em combater a corrupção comprometa direitos fundamentais e a própria democracia. Em primeiro lugar, é necessário destacar a importância de um marco legal robusto para enfrentar a facção criminosa que opera em diferentes níveis da sociedade. No entanto, a implementação de medidas que visam à prevenção e a repressão deve ser acompanhada de garantias que assegurem o respeito aos direitos individuais e coletivos.
O texto aprovado carece de mecanismos claros de fiscalização e controle, o que pode levar a abusos de poder e violações de direitos civis. Outro ponto a ser considerado é a questão da eficácia. O Brasil já conta com uma vasta legislação destinada a combater a corrupção e a criminalidade organizada, mas os resultados são muitas vezes frustrantes. É preciso refletir se mais uma lei realmente trará mudanças significativas ou se o problema reside na falta de aplicação efetiva das normas existentes.
A criação de novos dispositivos legais, sem um plano claro de implementação e fiscalização, pode se tornar apenas um paliativo, sem resolver as raízes do problema. Além disso, a aprovação do projeto antifacção ocorre em um contexto de crescente polarização política, onde a desconfiança nas instituições é palpável. Medidas que possam ser interpretadas como uma tentativa de cercear a liberdade de expressão ou de perseguição política deve ser vistas com cautela. A história recente do Brasil está repleta de episódios em que legislações com um discurso “de combate ao crime” foram instrumentalizadas para silenciar opositores e restringir a democracia.
Por fim, é imprescindível que o debate sobre o projeto antifacção não se limite aos corredores do Congresso e às manchetes dos jornais. A sociedade civil, os acadêmicos e os movimentos sociais precisam estar ativamente envolvidos na discussão das implicações dessa nova legislação. Apenas assim poderemos construir um sistema que realmente combata a facção criminosa, mas que também preserve os direitos fundamentais e a pluralidade do debate democrático. Em suma, a aprovação do projeto antifacção é um passo que deve ser acompanhado com atenção.
Este texto não reflete necessariamente a opinião do Jornal Somos.