quinta-feira, 02 de outubro de 2025

Colunas

ORTOTANÁSIA: QUANDO O SILÊNCIO MÉDICO FALA MAIS ALTO QUE A VIDA

POR Cairo Santos | 29/09/2025
ORTOTANÁSIA: QUANDO O SILÊNCIO MÉDICO FALA MAIS ALTO QUE A VIDA

Foto: Canva

H

Hoje resolvi escrever sobre um tema que tem gerado muito discussão e poucos dão a sua opinião clara sobre o assunto. Não sou médico portando vou abordar o assunto como leigo. Vamos falar de ORTOTANÁSIA?

 

Em tempos de avanços tecnológicos e medicina de ponta, a ortotanásia surge como um paradoxo inquietante: a decisão consciente de não prolongar artificialmente a vida de um paciente terminal. Para muitos, é um gesto de compaixão. Para outros, uma abdicação do dever médico de lutar até o último suspiro.

 

A ortotanásia se apoia na ideia de que há um momento em que o cuidado se transforma em obstinação terapêutica — quando os aparelhos mantêm o corpo funcionando, mas a pessoa já não está mais ali. No entanto, essa linha é tênue e perigosa. Quem decide quando a vida deixou de ser digna? E com base em que critérios?

 

Defensores da ortotanásia argumentam que ela respeita a autonomia do paciente e evita sofrimento desnecessário. Mas será que essa autonomia é sempre plena? Em um país onde o acesso à saúde é desigual, onde famílias enfrentam pressões econômicas e emocionais intensas, há o risco de que a escolha pela ortotanásia seja menos uma decisão livre e mais uma rendição silenciosa.

 

Além disso, há um dilema ético profundo: ao permitir que a morte ocorra sem intervenção, não estaríamos normalizando a desistência? A medicina, por essência, é resistência — é a arte de desafiar o inevitável. A ortotanásia, nesse sentido, pode representar uma ruptura com esse princípio fundador.

 

Não se trata de negar o sofrimento dos pacientes terminais, tampouco de ignorar o direito à morte digna. Mas é preciso cautela para que a ortotanásia não se transforme em uma política de alívio institucional — uma forma de aliviar sistemas de saúde sobrecarregados, famílias exaustas e médicos sem recursos.

 

A vida, mesmo em seus últimos instantes, merece ser defendida com vigor. E se a medicina não pode curar que ao menos cuide. Que não se cale diante da dor, nem se ausente diante da morte.

 

 Este texto não reflete necessariamente a opinião do Jornal Somos.

COMPARTILHE: