sexta-feira, 05 de dezembro de 2025
Foto: CFM
Na última quarta-feira, 03, o Senado aprovou a criação de um exame nacional obrigatório para médicos recém-formados, uma decisão que promete gerar debates acalorados na sociedade. À primeira vista, a medida parece ser uma resposta necessária para garantir a qualidade da formação médica no Brasil, especialmente em um momento em que a confiança na saúde pública é cada vez mais abalada.
No entanto, é crucial que analisemos suas implicações de forma crítica. A proposta de um exame nacional pode ser vista como um passo em direção à padronização da formação médica, garantindo que todos os profissionais que ingressam no mercado tenham um mínimo de conhecimento e habilidades. Em um país marcado por desigualdades regionais e por uma formação médica muitas vezes discrepante entre instituições, essa iniciativa poderia, teoricamente, elevar o padrão de atendimento à saúde. Contudo, ao implementar um exame dessa magnitude, devemos considerar os desafios que se impõem.
A pressão adicional sobre os recém-formados, que já enfrentam um cenário competitivo e carregado de expectativas, pode gerar um efeito contrário ao desejado. A criação de um exame nacional, se não for bem estruturada, pode acabar se tornando mais um obstáculo do que uma ferramenta de melhoria. Será que estamos preparados para lidar com o impacto emocional e psicológico que isso pode causar nos jovens médicos? Além disso, é fundamental questionar a efetividade do exame. A história recente nos mostra que avaliações padronizadas nem sempre refletem a competência prática dos profissionais.
A medicina é uma ciência que requer habilidades interpessoais, empatia e um entendimento profundo do contexto social e cultural dos pacientes – aspectos que dificilmente podem ser medidos por meio de uma prova escrita. Ademais, a implementação de um exame nacional deve ser acompanhada de uma reflexão sobre a formação médica em si. Precisamos garantir que as instituições de ensino superior ofereçam uma educação atualizada e relevante, que prepare os alunos para os desafios do cotidiano médico. A responsabilidade pela qualidade da formação não pode recair exclusivamente sobre os ombros dos recém-formados. Portanto, a aprovação do exame nacional obrigatório é um tema que merece uma análise cuidadosa.
Enquanto a intenção de elevar os padrões da medicina no Brasil é louvável, a execução dessa política deve ser acompanhada de uma visão abrangente, que priorize a formação integral e a saúde mental dos futuros médicos.
Este texto não reflete necessariamente a opinião do Jornal Somos.