sábado, 25 de outubro de 2025

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JUSTIÇA OU VINGANÇA? O BRASIL DIANTE DA ANISTIA AOS CONDENADOS DE 8 DE JANEIRO

POR Cairo Santos | 03/10/2025
JUSTIÇA OU VINGANÇA? O BRASIL DIANTE DA ANISTIA AOS CONDENADOS DE 8 DE JANEIRO
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Uma pesquisa recente revelou que a maioria dos brasileiros é contrária à anistia dos envolvidos nos ataques às sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023. A pesquisa foi realizada pelo PoderData, empresa do grupo Poder360 Jornalismo, com recursos próprios. Os dados foram coletados de 27 a 29 de setembro de 2025, por meio de ligações para celulares e telefones fixos. Foram 2.500 entrevistas em 178 municípios nas 27 unidades da Federação. A pesquisa mostra que 63% dos brasileiros pesquisados são contra a anistia. A margem de erro é de 2 pontos percentuais. O intervalo de confiança é de 95% A posição popular, embora compreensível diante da gravidade dos atos, merece uma análise mais profunda: estamos defendendo a justiça ou cedendo à tentação da vingança?

 

Os eventos daquele dia foram um ataque direto à democracia, com imagens que chocaram o país e o mundo. A resposta institucional foi rápida e dura, com prisões em massa e condenações exemplares. Mas agora, diante da proposta de anistia — seja por motivação política ou por revisão jurídica — a sociedade parece inflexível. Para muitos, perdoar seria trair a memória do que foi destruído.

 

No entanto, é preciso lembrar que a anistia, historicamente, não é sinônimo de impunidade. Ela pode ser um instrumento de pacificação nacional, como foi em 1979, quando o Brasil buscava cicatrizar as feridas da ditadura. A diferença, claro, está no contexto: hoje, não há um regime autoritário a ser encerrado, mas sim uma democracia que precisa se fortalecer.

 

A crítica à posição majoritária não é uma defesa dos atos criminosos, mas um chamado à reflexão. Quando a sociedade rejeita qualquer possibilidade de perdão, mesmo após o cumprimento parcial das penas, ela pode estar sinalizando que a punição é mais importante que a reconstrução. Isso levanta uma questão incômoda: estamos dispostos a abrir mão da reconciliação em nome da punição?

 

Além disso, há o risco de que essa rigidez se torne seletiva. A justiça precisa ser firme, mas também equânime. Se a anistia é negada aos que invadiram prédios públicos, será ela igualmente negada a outros grupos que, em diferentes contextos, também desafiaram a ordem institucional?

 

A democracia se fortalece não apenas punindo seus agressores, mas também demonstrando maturidade ao lidar com suas crises. O Brasil precisa decidir se quer ser um país que apenas pune ou que também sabe perdoar — sem esquecer, sem relativizar, mas com coragem para seguir adiante.

 

 

 

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