quarta-feira, 14 de maio de 2025

CPI OU ESPETÁCULO? A INEFICIÊNCIA DAS COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO NO BRASIL

POR Cairo Santos | 14/05/2025
CPI OU ESPETÁCULO? A INEFICIÊNCIA DAS COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO NO BRASIL

Foto: X

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As Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) deveriam ser instrumentos de fiscalização e investigação, capazes de esclarecer irregularidades e propor soluções para problemas estruturais do país. No entanto, na prática, muitas delas se transformam em palcos de disputas políticas, manobras midiáticas e, como vimos recentemente, até tietagem explícita.

 

O episódio envolvendo a influenciadora Virginia Fonseca na CPI das Bets escancarou a fragilidade do sistema. Convocada para prestar esclarecimentos sobre sua participação em campanhas publicitárias de casas de apostas, a influenciadora foi recebida por parlamentares mais preocupados em garantir selfices e vídeos personalizados do que em conduzir um interrogatório sério. O senador Cleitinho Azevedo, que sequer faz parte da comissão, interrompeu os trabalhos para elogiar Virginia e pedir que ela enviasse uma mensagem à sua esposa e filha. A cena, transmitida ao vivo, gerou indignação entre os membros da CPI que ainda tentavam manter um mínimo de seriedade.

 

Esse episódio não é um caso isolado. As CPIs no Brasil frequentemente terminam sem resultados concretos, servindo mais como ferramentas de exposição política do que como mecanismos de investigação eficazes. O roteiro é previsível: discursos inflamados, depoimentos midiáticos, algumas trocas de farpas e, ao final, um relatório que dificilmente gera consequências reais. A CPI da Covid, a CPI do MST, a CPI das Fake News—todas seguiram esse padrão, com pouca ou nenhuma punição efetiva aos envolvidos.

 

O caso de Virginia Fonseca apenas reforça a percepção de que, no Brasil, CPIs são mais um espetáculo do que um instrumento de fiscalização. Quando parlamentares se comportam como fãs em um camarim de celebridade, o país perde a oportunidade de discutir temas relevantes com a seriedade necessária. A CPI das Bets deveria investigar o impacto da promoção de apostas online por influenciadores digitais, especialmente entre menores de idade e públicos vulneráveis. Em vez disso, virou um show de vaidades.

 

O Brasil precisa repensar o papel das CPIs. Sem mecanismos que garantam sua efetividade e impeçam que se tornem meros palcos políticos, continuaremos assistindo a sessões que mais se assemelham a reality shows do que a investigações sérias. E, no fim, quem perde é a população.

 

 Este texto não reflete necessariamente a opinião do Jornal Somos.

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