sexta-feira, 18 de julho de 2025

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BRASIL SOB ATAQUE: QUANDO O PROTECIONISMO VIRA PRETEXTO PARA INGERÊNCIA

POR Cairo Santos | 17/07/2025
BRASIL SOB ATAQUE: QUANDO O PROTECIONISMO VIRA PRETEXTO PARA INGERÊNCIA

Foto: Canva

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A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados para o mercado americano marca um dos episódios mais agressivos da história recente das relações bilaterais. O gesto, longe de ser apenas uma medida econômica, carrega um peso político e simbólico que não pode ser ignorado.

 

Trump justificou a medida com alegações infundadas sobre censura e perseguição política no Brasil, citando diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro e criticando decisões do Supremo Tribunal Federal. Ao fazer isso, ultrapassou os limites da diplomacia e tentou impor uma chantagem institucional, condicionando relações comerciais à revisão de processos judiciais internos. Essa postura não é apenas uma afronta ao governo brasileiro, mas ao próprio Estado de Direito. A independência dos poderes e o respeito às instituições são pilares de qualquer democracia. Quando um líder estrangeiro tenta moldar decisões judiciais de outro país com ameaças econômicas, o que está em jogo é a soberania nacional.

 

Como se não bastasse, Trump ainda anunciou que a Coca-Cola passará a usar açúcar de cana em vez de xarope de milho em suas bebidas vendidas nos EUA. Embora a mudança não afete diretamente o Brasil, ela reacende a disputa entre os lobbies do milho e do açúcar e pode ter impactos indiretos sobre o mercado global. A ironia é que, enquanto penaliza o Brasil com tarifas, Trump se apropria de um dos principais insumos brasileiros — o açúcar de cana — como símbolo de saúde e nacionalismo. Ao tentar ser o “dono do mundo”, ele já ameaçou anexar Canadá e tomar Groenlândia e Canal do Panamá, mais recentemente pediu uma investigação comercial contra o Brasil ao criticar a 25 de março em São Paulo, o Pix, ferramenta criada pelo Banco Central brasileiro e por aí vai.

 

O Brasil não pode se curvar diante de medidas arbitrárias. A resposta precisa ser firme, institucional e estratégica. A Lei da Reciprocidade Econômica, aprovada recentemente, oferece instrumentos para reagir à altura. Mais do que isso, é hora de fortalecer alianças multilaterais, diversificar mercados e reafirmar o compromisso com uma política externa soberana.

 

O que está em jogo não é apenas o comércio de café, carne ou celulose. É o respeito à autodeterminação de um país que não aceita ser tratado como peça de tabuleiro geopolítico. O Brasil é maior do que qualquer tarifa — e sua democracia, mais valiosa do que qualquer acordo comercial. E nós brasileiros, acima de qualquer questão política, somos os únicos capazes de resolver os nossos problemas internos.

 

Este texto não reflete necessariamente a opinião do Jornal Somos.

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