O anuário nacional da violência no Brasil divulgado na última quinta-feira, 24, traz um dado preocupante: no ambiente virtual, os casos de produção ou distribuição de material de abuso sexual infantil aumentaram 14,1% em relação a 2023.

Nos últimos anos, o Brasil tem testemunhado um alarmante aumento nos crimes digitais contra crianças, um fenômeno que exige não apenas atenção, mas uma ação imediata e coordenada de diversos setores da sociedade. O advento das tecnologias digitais e o acesso quase irrestrito à internet trouxeram inegáveis benefícios, mas também abriram portas para práticas criminosas que ameaçam a integridade e a segurança dos nossos jovens. Dados recentes apontam que, em meio ao crescimento exponencial do uso de dispositivos eletrônicos por crianças e adolescentes, o número de denúncias de exploração sexual, grooming e cyberbullying cresceram de maneira preocupante.

Segundo o relatório do SaferNet Brasil, em 2022, o país registrou um aumento de 40% nas denúncias relacionadas a crimes virtuais contra menores. Essas estatísticas são apenas a ponta do iceberg, pois muitos casos permanecem ocultos, seja por medo, vergonha ou falta de conhecimento sobre como proceder. O aumento dos crimes digitais contra crianças destaca uma falha alarmante em nossa sociedade: a falta de estratégias eficazes de educação digital e prevenção. As escolas, muitas vezes, não estão preparadas para lidar com as questões relacionadas ao uso seguro da internet. Embora algumas iniciativas tenham surgido, como programas de conscientização, a implementação ainda é incipiente e carece de um enfoque mais robusto.

Além disso, a responsabilidade não deve recair apenas sobre os educadores. Pais e responsáveis também desempenham um papel fundamental na proteção de suas crianças. É vital que haja um envolvimento ativo no diálogo sobre o uso da internet, a importância da privacidade e os perigos que podem surgir do contato com estranhos online. No entanto, muitos pais se sentem despreparados para essa tarefa, frequentemente devido à própria falta de conhecimento sobre o mundo digital em que suas crianças estão inseridas. Essas questões são ainda mais complexas ao considerarmos as disparidades sociais. Crianças de comunidades vulneráveis, que têm acesso limitado a recursos educativos e tecnológicos, ficam ainda mais expostas aos riscos.

A desigualdade digital acentua a vulnerabilidade, tornando esses jovens alvos fáceis para criminosos que se aproveitam da situação. O papel do governo é crucial nessa luta. A implementação de políticas públicas eficazes, que incluam o fortalecimento das legislações e a capacitação gritam por socorro.