terça-feira, 01 de outubro de 2024

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A POLARIZAÇÃO POLÍTICA SOBRE A TRAGÉDIA NO SUL QUE BEIRA A CRUELDADE

POR Cairo Santos | 08/05/2024
A POLARIZAÇÃO POLÍTICA SOBRE A TRAGÉDIA NO SUL QUE BEIRA A CRUELDADE

Foto: Agência Brasil

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Enquanto milhares de brasileiros se juntam no país todo para prestar ajuda aos brasileiros do Sul, que lutam para sobreviver diante da catástrofe das enchentes no estado, outros estão preocupados em politizar a tragédia. Temos observado que a tragédia virou discussão ideológica nas redes sociais por alguns desocupados que só se preocupam com sua posição política.

 


O que mais chamou a atenção foi o conjunto de vídeos e textos postados nas redes que tentavam encontrar uma esdrúxula ligação entre o eleitorado do ex-presidente Jair Bolsonaro e a catástrofe.

 


Vários internautas tentaram difundir a seguinte tese: os bolsonaristas votaram no Sul em governadores neoliberais, que desejam reduzir o tamanho do Estado e, por isso, o resgate às vítimas foi falho ou deixou a desejar. A evidência levantada por esses indivíduos me perdoe, idiotas, seria a votação de Jair Bolsonaro no estado gaúcho, que chegou a 56%.

 


Esse raciocínio tortuoso, no entanto, cai por terra quando lembramos que o candidato do bolsonarismo no Rio Grande do Sul não foi o atual governador Eduardo Leite – e sim o ex-ministro Onyx Lorenzoni que obteve apenas 42% dos votos. Além de maldosos são mal informados.

 


Pode-se até dizer que essa tragédia poderia ter sido mitigada com o uso de determinadas ações preventivas. Mas isso nada tem a ver com o tamanho do estado em si ou da orientação política dos sulistas.

 


Entre o festival de horrores que tomou conta das redes sociais, um vídeo chama atenção em particular: uma desmiolada ri da catástrofe, mostrando um rebanho arrastado pela água e diz estar se divertindo com os “bolsominions sendo levados pela enchente no Rio Grande do Sul”. Outra postagem mostra um senhor afirmando que os gaúchos tiveram o que mereceram, pois queriam separar o Rio Grande do Sul do resto do país e, ainda por cima, apoiaram Bolsonaro. Por fim, uma enormidade de mensagens dizia que as vítimas eram brancas e bolsonaristas – e que, apenas por isso, a repercussão sobre a tragédia ganhou um contorno tão grande.

 


Impressionante como alguém usa um momento tão difícil e de tanto sofrimento para fazer críticas ideológicas ou tripudiar em cima de cidadãos que estão desabrigados. E que devem enfrentar, depois das cheias, um frio intenso, com a temperatura chegando a 10 graus centígrados nos próximos dias.

 


Os números da catástrofe são superlativos: 840.000 pessoas afetadas pelas enchentes, das quais quase 100 morreram mais de 111 foram contabilizados como desaparecidos até o momento, 18.000 estão desabrigadas e 116.000 desalojadas. Porto Alegre vive uma situação dramática, com 70% da cidade sem abastecimento de água. São no Rio Grande do Sul 366 municípios em estado de calamidade pública, segundo o Governo Federal.

 


A pergunta para os sensatos é: como é que, diante de tanta desgraça, alguém consegue destilar tamanha crueldade? Por fim o que podemos concluir é que o desastre é climático e não tem nenhuma relação com a posição política, mesmo porque a natureza não vota.

 

 

Esse texto não reflete necessariamente a opinião do Jornal Somos.

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