quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

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A CONTRADIÇÃO DAS "SAIDINHAS" TEMPORÁRIAS

POR Cairo Santos | 27/11/2025
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Foto: Freepik

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Com a chegada do mês de dezembro, mês do natal e a troca de anos, chega também o período das “saidinhas” de presos perigosos dos presídios brasileiros.

 

Poucos temas despertam tanta indignação na sociedade quanto às chamadas saidinhas temporárias. Criadas com a justificativa de promover a ressocialização, permitindo que presos em regime semiaberto passem datas comemorativas com suas famílias, essas permissões se transformaram em um paradoxo quando aplicadas a criminosos de alta periculosidade.

 

O argumento oficial é nobre: fortalecer vínculos afetivos e preparar o indivíduo para o retorno à vida em liberdade. Mas na prática, o que se vê é um sistema que frequentemente falha em distinguir entre quem realmente está pronto para essa reintegração e quem ainda representa uma ameaça concreta à sociedade. Casos de reincidência durante essas saídas não são raros, e cada episódio reforça a sensação de insegurança da população.

 

É legítimo perguntar: até que ponto o direito do preso deve se sobrepor ao direito da sociedade de viver em paz? A lei, ao tratar todos de forma igual, ignora a diferença entre o pequeno infrator que busca reconstruir sua vida e o criminoso que já demonstrou desprezo pelas regras e pela vida alheia. Essa generalização mina a credibilidade do sistema penal e expõe cidadãos a riscos desnecessários.

 

Não se trata de negar a importância da ressocialização, mas de reconhecer que ela não pode ser aplicada de forma automática e indiscriminada. A justiça precisa ser capaz de avaliar caso a caso, com critérios rigorosos, para que o benefício não se transforme em privilégio perigoso. Afinal, ressocializar não é abrir as portas da prisão em datas festivas; é oferecer condições reais de mudança, sem colocar em xeque a segurança coletiva.

 

Enquanto o Estado insiste em manter a lógica das saidinhas sem filtros adequados, a sociedade continuará refém de um modelo que privilegia a teoria em detrimento da realidade. E a realidade, infelizmente, mostra que muitos desses “beneficiados” não estão prontos para a liberdade — nem mesmo temporária.

 

Este texto não reflete necessariamente a opinião do Jornal Somos.

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