quinta-feira, 21 de novembro de 2024
Redação Jornal Somos
As sentenças dos quatro réus que estão sendo julgados pelas 242 mortes e 600 feridos no incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria, em janeiro de 2013, irão sair nessa sexta-feira (10), após seu início no dia 1º de dezembro. A previsão é que a leitura da sentença ocorra nesta tarde. Antes disso, a partir de 10h iniciará a réplica do Ministério Público (MP) e, às 13h15, a tréplica dos advogados de defesa.
Foram 32 depoimentos nestes 10 dias de julgamento. A tragédia se tornou a segunda maior do Brasil, ficando atrás apenas do incêndio ocorrido em Niterói (RJ), em 1961, que deixou 503 mortos no Gran Circo Norte Americano. Apesar do resultado da sentença ser divulgado nessa sexta (10), independentemente de qual for, existe a possibilidade de recurso da decisão tanto pelos réus, quanto pelo MP.
De acordo com a promotoria, os réus assumiram os riscos no incêndio, sendo os integrantes da banda Gurizada Fandangueira, o vocalista Marcelo de Jesus dos Santos e o produtor musical Luciano Bonilha Leão, por terem realizado o show com pirotecnia sem precauções e utilizando objetos inadequados para o local, e os sócios da boate, Elissando Spohr e Mauro Hoffmann, por lotarem a casa de shows acima do permitido, bem como por terem realizado a instalação da espuma que gerou gases tóxicos.
Elissando Spohr
O empresário, dono da boate, Elissandro, também conhecido como Kiko, contou em seu depoimento na quarta-feira (8) que entrou em desespero no dia do incêndio à medida que o número de mortos ia crescendo. Ele ainda disse que tentou ajudar a retirar as pessoas do local, mas acabou indo embora após receber um tapa na cara de uma pessoa que considerava amiga. Spohr foi o primeiro réu a ser ouvido no julgamento e, além de ter uma crise de choro, pediu desculpas às famílias das vítimas.
“Eu não sabia o que fazer, onde eu ia, não tinha explicação, não tinha (...) Eu não quis isso, eu não escolhi isso, desculpa, desculpa de coração porque eu tenho que me conter, mas eu não tenho mais, não aguento mais (...) Isso não deveria ter acontecido, não deveria ter acontecido, eu sei que não deveria ter acontecido. Por que isso ia acontecer na Kiss? Era uma boate boa, onde todo mundo gostava de trabalhar. Eu virei monstro de um dia para outro. E fui preso. E eu sei que morreu gente, eu estava lá, ninguém me falou, eu estava lá”, disse.
Luciano Bonilha
O produtor musical foi o segundo réu a ser ouvido já na quinta (9). Ele era produtor da banda Gurizada Fandangueira, que tocava na Boate Kiss no dia da tragédia. Luciano contou que viu o início do fogo e tentou apaga-lo jogando água nas labaredas, o que, na verdade, fez com que as chamas se alastrassem. Segundo ele, a banda já havia realizado aproximadamente 14 shows, sendo 9 com os artefatos pirotécnicos.
“Não foi meu ato que causou tragédia, que tirou a vida desses jovens. Mesmo eu sabendo que sou inocente, para tirar as dores dos pais, me condenem (...) Não consegui respirar, coloquei assim [a camiseta nos olhos e boca], e caíram mais pessoas sobre mim. Eu fui arrastado de lá, tenho até hoje marca de unha, de alguém que me tirou”.
Mauro Hoffmann
O terceiro a falar foi o sócio investidor da boate, Mauro Hoffmann. Ele contou que estava em casa no dia do incêndio, se preparando para dormir, quando Spohr o ligou avisando o ocorrido. O empresário teria ido às pressas ao local, chegando junto ao Corpo de Bombeiros, ficando ali até 5h30, quando ouviu que Elissandro havia deixado a boate. Durante seu depoimento, Mauro reforçou que não se sentia dono da boate e que era apenas um sócio.
“A situação era terrível, horrível, muita fumaça saindo. As pessoas, elas trancaram muito nos táxis [no momento de deixar a boate]. Foi uma tragédia. Foi uma sucessão de pequenas coisas, mas o que mais atrapalhou foi os taxistas, [as pessoas] foram caindo por cima dos táxis, quem estava lá por trás não conseguia sair (...) Eu não me apresentei como dono de boate. Olha, o Kiko era o Kiko da Kiss, nunca me intitulei dono da Kiss. Eu não me sentia dono, eu era sócio”.
Marcelo de Jesus
O último depoimento dos réus foi prestado pelo vocalista da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus, que atualmente trabalha como azulejista. Ele afirmou que tentou apagar as chamas na boate, mas que não conseguiu porque o extintor não funcionou. Segundo o músico, ele só está vivo por ter recebido ajuda de seu irmão para sair do local, já que depois de ter tentado apagar o fogo e não encontrado meios, ele não se lembra de mais nenhum detalhe da tragédia. O vocalista se emocionou em diversos momentos durante sua fala ao júri.
“Quando eu olhei tinha uma bola [de fogo] e já vinha um rapaz com extintor. Eu estava com o microfone e larguei o microfone e gritei: 'Fogo, fogo, sai' e peguei o extintor na mão. Na minha cabeça, eu ia apagar. Eu tive uma chance só de apagar o fogo e a chance que eu tive não consegui. (...) Todo mundo que estava lá dentro é vítima, ninguém foi lá para morrer. Eu nunca tinha visto fotos do processo, a senhora me mostrou fotos do processo e não consegui levantar da cadeira. Eu não pude dar beijo no Danilo, o jeito que eu vi, é desumano. Ele era que nem meu irmão”.
(Com informações do UOL, do G1 Rio Grande do Sul e do Estado de Minas)
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