segunda-feira, 14 de abril de 2025

Brasil

Os impactos das ondas de calor no sistema elétrico brasileiro

POR Cairo Tobias | 12/04/2025

Eventos climáticos extremos afetam a disponibilidade de recursos à infraestrutura, exigindo medidas adaptativas e inovação tecnológica

Os impactos das ondas de calor no sistema elétrico brasileiro

Foto: Reprodução

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Um relatório da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) aponta quatro impactos das ondas de calor sobre o Sistema Interligado Nacional (SIN): disponibilidade de recursos, eficiência de equipamentos, demanda por eletricidade e riscos às infraestruturas. “Na prática, os efeitos são sentidos principalmente na geração, mas também na transmissão e distribuição de energia, afetando tanto os consumidores quanto os players do setor”, aponta o advogado Leonardo Dalla Costa Novakovski.

 

As ondas de calor afetam diretamente a disponibilidade de recursos pelos reflexos nos índices de precipitação de chuvas, na força e na direção dos ventos e na incidência solar. Dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) estimam que, ao fim de 2024, o Brasil tinha 208.930 MW de potência instalada, sendo quase 85% de usinas consideradas renováveis, especialmente hidrelétricas, solares e eólicas.

 

“Os índices de chuva, de maneira geral, afetam diretamente a capacidade do sistema elétrico brasileiro, que ainda depende em larga medida das usinas hidrelétricas. Apesar do crescimento dos modais solar e eólico, trata-se de sistemas intermitentes, que exigem operações capazes de dar segurança ao abastecimento. Em um cenário de escassez dos reservatórios, esse papel é ocupado pelas usinas termelétricas, que têm um custo mais elevado e encarecem a tarifa”, explica Dalla Costa, que possui atuação especializada no setor elétrico.

 

Demanda por eletricidade

 

As ondas de calor também afetam a demanda por eletricidade. No início deste ano, foram registrados dois recordes seguidos no consumo de energia: de 102.740 MWh/h em 24 de janeiro e 106.100 MW/h em 28 de fevereiro, segundo os dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

 

“Até o momento, o Sistema Interligado Nacional tem respondido relativamente bem a esta nova demanda por energia, que decorre principalmente do uso de ar-condicionado e outros equipamentos voltados à refrigeração tanto nas residências quanto em comércios e empresas. Conforme dados do ONS[1], houve avanço de 7% da carga de energia no SIN em fevereiro de 2025, avanço este influenciado pelas ondas de calor percebidas” ressalta Dalla Costa.

 

Na outra ponta, porém, especialmente os grandes centros urbanos têm tido dificuldades para lidar com os danos à infraestrutura causados por eventos climáticos extremos: tempestades, ventos fortes e enchentes. No fim do ano passado, a Aneel abriu uma consulta pública para ampliar os direitos do consumidor em casos de interrupção de energia nessas situações de emergência.

 

“A ideia da Agência é aprimorar as normas sobre transmissão e distribuição de energia especialmente em casos emergenciais (como interrupção do fornecimento), causados, dentre outras razões, por eventos climáticos extremos, como tempestades. Busca-se não só garantir os direitos do consumidor, com novas regras de compensação e ressarcimento de danos, mas também agir de forma proativa na prevenção diante do aumento significativo dos referidos eventos climáticos. Isso ocorreria por meio da elaboração de planos de contingência e comunicação clara com o poder público na mitigação desses impactos”, explica o advogado.

 

Fluxo reverso

 

Atualmente, a geração distribuída (MMGD) já representa cerca de 22% da capacidade instalada do Brasil, com a energia solar atingindo um recorde de 41,4 MW em agosto de 2024, tornando-se a segunda maior fonte do país. Este modal é aquele decorrente da geração de energia por meio de placas fotovoltaicas inseridas nos tetos de residências e empresas.

 

Apesar de ser uma fonte renovável e sustentável, ela traz desafios como dificuldades no controle de tensão devido à redução no carregamento do sistema de transmissão durante o dia. Um dos principais desafios é o chamado “fluxo reverso”, que ocorre quando a energia excedente gerada localmente é enviada de volta à rede, promovendo eficiência energética, mas exigindo adaptações na infraestrutura para lidar com a bidirecionalidade do fluxo.

 

“Esse fenômeno pode impactar o sistema elétrico e comprometer sua estabilidade, exigindo uma série de adaptações por parte das concessionárias distribuidoras de energia. Ao mesmo tempo em que a tecnologia surge como uma aliada, ajudando a prever de maneira mais precisa a geração e as condições do fluxo reverso, é possível que haja necessidade de investimentos, em especial no setor de transmissão de energia, para garantir a eficiência do sistema”, analisa Dalla Costa.

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