sexta-feira, 19 de abril de 2024

Brasil

Mulher e mercado ainda são inimigos?

POR Jornal Somos | 08/03/2019
Mulher e mercado ainda são inimigos?
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Dia 8 de março é celebrado como o Dia Internacional da Mulher e tem como principal objetivo reforçar a ideia de igualdade de gênero, força e relembrar as lutas das mulheres ao longo dos anos. Mas, além disso, reforça também o fato de que todos os dias devemos valorizar as conquistas e celebrar as vitorias desse gênero que não é nada frágil.

 

Para falar sobre a presença cada vez maior das mulheres no mercado de trabalho, a Coach Regina Coelho concedeu uma entrevista mais do que especial ao SOMOS.

 

Mestre em Pesquisa, tem mais de vinte anos de experiências no desenvolvimento de pessoas e estuda afinco as relações do homem com o trabalho no mundo contemporâneo, auxiliando as empresas e seus colaboradores no redirecionamento de conflitos ou desmotivação para o aumento de performance e de resultados.

 

01 - Como é a participação da mulher no mercado de trabalho hoje?

Felizmente a participação da mulher no mercado de trabalho é crescente e cada vez mais perceptível o aumento da sua importância na economia, e, também a responsabilidade feminina no sustento da família. De acordo com a pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), a mulher representa 52,3% da população em idade ativa, no entanto a participação das mulheres economicamente ativas é apenas de 43,3%. A diferença nesse percentual se dá em função de algumas mulheres optarem pela não participação no mercado de trabalho, bem como, pelos empregos informais, entre outras razões.

 

02 - Ainda existe muita diferença entre os gêneros nas profissões?

Infelizmente sim, as funções exercidas, os cargos e as remunerações das mulheres, quando comparadas com as dos homens, ainda se encontram em bastante defasagem, o que é lamentável, visto que competência não tem gênero.

 

03 - Ainda pode-se considerar nichos de mercado para profissões consideradas femininas?

Não sei bem se nicho seria o nome correto, mas vou dar alguns dados para elucidar um pouco sobe isso: Segundo a INEP, dados de 2016 (Instituto Nacional de Estudos e pesquisas Educacionais) as mulheres representam 57,2 dos estudantes matriculados em cursos de graduação. Na docência da educação superior os homens representam 54,5% já na docência da educação básica as mulheres representam 80% do mercado de trabalho.

Esse exemplo nos mostra que a mulher ainda é vista como cuidadora, e por isso, algumas funções, como no caso da docência básica (que infelizmente tem menos status), ainda é considerada como uma profissão feminina, e cada vez mais temos mulheres com profissões técnicas exercendo cargos em indústrias e em outras posições, em cargos que eram considerados masculinos, e o que é melhor, tendo um desempenho fantástico.

 

05 - Se nos números da Educação as mulheres são a maioria, no mercado também não deveria ser? Como mudar isso?

Apenas 11% dos CEOS das grandes empresas brasileiras são mulheres, ninguém ganha com este cenário, as mulheres que não conseguem exercer seu pleno potencial e as empresas também não conseguem usufruir dos talentos femininos para gerar cada vez mais negócios.

Para mudar este cenário, existem alguns desafios a serem superados, principalmente os estereótipos e crenças limitantes do que é certo ou adequado para uma mulher, na sua família, no mercado de trabalho e nas suas relações sociais. A mulher precisa fazer mais networking e isso é realmente um desafio especial, já que as pessoas das quais ela precisa se aproximar, em sua grande maioria, são homens; além disso, tem o desafio do tempo, em função dos desequilíbrios dos papeis assumidos dentro de casa. Também segundo pesquisas recentes, as mulheres dedicam quase o triplo do tempo que os homens dedicam aos cuidados dos filhos e da casa.

Acredito que a mulher precisa negociar mais, não só esperar o reconhecimento e também se lançar em áreas que nem mesmo ela acreditava que seria seu espaço.

Vejo também que enquanto as empresas não mudarem suas culturas, enquanto os dirigentes não se questionarem se os seus espaços são verdadeiramente inclusivos e meritocráticos, isso não mudará. A meritocracia nem sempre trata todo mundo igual, mas entendendo as necessidades específicas para que as pessoas tenham as mesmas condições de trabalho, tendo um olhar sobre a paridade salarial, os processos de atração, seleção e de desenvolvimento de carreira para ver se realmente essas decisões importantes do negócio, estão sendo tomadas sem vieses.

Além disso, tem a sociedade que somos todos nós e o governo e o que ele poderia fazer, talvez criar algumas políticas públicas para a mulher profissional, como pó exemplo, aumentar a licença paternidade, para que os homens desde cedo sejam instigados ao papel ativo da paternidade, poderia também garantir que toda mulher consiga creche para seus filhos, o que ainda não é uma realidade. Precisamos também mudar nossa postura em relação às outras mulheres, deixando a crítica de lado e passando a valorizar umas as outras e os homens também precisam ter um papel ativo nessas discussões, já que hoje a liderança nas organizações é em grande parte masculina e, sendo assim, podem ter um impacto transformador nessa questão de igualdade de gênero, o que seria bom inclusive para ele, já que tiraria dele o peso da masculinidade que talvez ele nem queira para si.

Penso que esses três atores, a mulher, a empresa e a sociedade se conseguirem assumir o protagonismo destas mudanças, faria uma grande diferença para encurtar essas discrepâncias estatísticas.

 

06 - Diante de assédio ou abuso entre os gêneros, como a mulher pode  se defender sem parecer fraca?

Não consigo ver a mulher se defendendo, pois não estamos em posição de vítimas, como mencionei anteriormente, acredito em posicionamento e negociação, sem medo de ser feliz.

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