sexta-feira, 26 de abril de 2024

Dinheiro gasto pelo governo federal com kit Covid permitiria a aquisição de 5,9 milhões de doses de vacina

POR Ana Carolina Morais | 01/04/2021
Dinheiro gasto pelo governo federal com kit Covid permitiria a aquisição de 5,9 milhões de doses de vacina

Arek Socha / Pixabay

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O governo federal destinou R$ 89 milhões em verbas à compra de remédios sem eficácia comprovada contra o novo coronavírus (azitromicina, ivermectina, cloroquina, hidroxicloroquina e oseltamivir), o chamado ‘kit Covid’, para utilizados na recuperação de pacientes infectados. A quantia gasta nos fármacos que não são recomendados por cientistas seria capaz de financiar a aquisição de 5,9 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19.

 

 

O custo unitário ao governo de cada imunizante foi de R$ 15,12, conforme demonstra dados do Ministério da Saúde. Sendo assim, o montante utilizado com os ‘kits Covids’ seria capaz de adquirir quase 6 milhões de vacinas – total que seria capaz de imunizar toda a população adulta do Distrito Federal, por exemplo.

 

 

A quantia destinada aos medicamentos que não possuem eficácia comprovada permitiria, também, a abertura de ao menos 3,7 mil leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para a hospitalização de contaminados, pois a contratação de 10 leitos custa entre R$ 239 mil e R$ 299 mil, segundo dados da pasta da Saúde, o que demonstra que os R$ 89 milhões dos ‘kits Covid’ poderiam arcar com 298 a 372 dezenas, isto é, 2.980 a 3.720 leitos.

 

 

Analistas avaliam que o investimento de verba, feito pelo governo federal, nestes medicamentos, desconsidera as necessidades prioritárias da população brasileira e a hierarquização dos gastos voltados às demandas emergenciais.

 

 

“Não sei as bases em que essa decisão [de investir R$ 89 milhões em remédios sem eficácia comprovada] foi tomada. Não diria que houve uma falha, mas a prioridade foi assentada em outras premissas que não a resolução de problemas imediatos e emergenciais (...) Se você tem toda uma demanda emergencial para resolver e investe em outra finalidade, como nesses kits de tratamento precoce, as bases para essa tomada de decisão não consideraram a priorização da necessidade. Há uma hierarquia de necessidades para o atendimento do bem comum da população – que não foi cumprida, nesse caso”, afirmou Francisco Antônio Coelho Júnior, professor do curso de pós-graduação em administração pública da Universidade de Brasília (UnB).

 

 

Os fármacos que compõe o ‘kit Covid’ não devem ser utilizados indiscriminadamente, pois há riscos de que os usuários do tratamento tenham efeitos colaterais. “Esses medicamentos podem ter efeitos colaterais potencializados. Falando, especificamente, em ivermectina há a toxicidade hepática. Pacientes estão evoluindo para a necessidade de transplante hepático. Nós temos observado que os exames se alteram mais nesse paciente que fez o uso do remédio, do que em quem não tomou”, pondera o infectologista César Carranza, do Hospital Anchieta de Brasília.

 

 

Além de efeitos colaterais como a toxicidade hepática, ainda é possível que o paciente desenvolva arritmias cardíacas com o uso de azitroicina e hidroxicloroquina. “Se você tomar os dois, o risco é dobrado, potencialmente. Reforço aqui que o remédio é ineficaz e há grave risco de apresentar problemas futuros. O infectado, se não tomar ou se tomar [o kit Covid], vai sarar do mesmo jeito. Há um grau de efeito placebo nos remédios, pois a cura é espontânea”, informa o infectologista.

 

 

(Com informações do Metrópoles)

 

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