quarta-feira, 03 de julho de 2024

Brasil

Dia da Consciência Negra: A luta de jogadores negros brasileiros contra o racismo

POR Thaynara Morais | 20/11/2022
Dia da Consciência Negra: A luta de jogadores negros brasileiros contra o racismo

Imagem: Buda Mendes/Getty Images

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O dia 20 de novembro já possui sua força devido ao Dia da Consciência Negra, e agora também é marcado pelo início da Copa do Mundo 2022. Os jogadores negros brasileiros são responsáveis por muito do sucesso da seleção pentacampeã, além de serem destaques nos mais importantes clubes do mundo. Os jogadores, apesar de todo o talento em campo, ainda encaram as práticas recorrentes de intolerância e discriminação racial no futebol, dentro e fora dos campos.

 

 

O craque do Real Madrid, e um dos destaques da seleção brasileira, Vinicius Júnior enfrentou inúmeros ataques racistas nos jogos na Espanha. O jogador Richarlison, do Tottenham, também convocado para a Seleção Brasileira, recentemente teve uma banana arremessada em sua direção após comemorar seu gol marcado em partida do Brasil com a Tunísia encerrada em 5x1. Nas redes sociais o jogador postou: “Enquanto ficarem de blá blá blá e não punirem, vai continuar assim, acontecendo todos os dias e por todos os cantos. Sem tempo, irmão! #racismonão”.

 

 

 A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) se manifestou após a ação racista na Tunísia.

 

 

"Lamentavelmente, após a ação, uma banana foi atirada no gramado em direção a Richarlison, autor do segundo gol brasileiro. A CBF reforça o sua posição de combate ao racismo e repudia qualquer manifestação preconceituosa", escreveu a CBF.

 

 

 

Grandes nomes da Seleção Brasileira, como Pelé, Garrincha, Leônidas da Silva, Didi, Djalma Santos, Carlos Alberto Torres e Jairzinho fizeram história ao longo dos anos e enfrentaram a discriminação racial. A representação do Brasil sempre chamou a atenção do mundo por ser fortemente marcada pela diversidade étnica e pela notável habilidade de seus jogadores. Mas nem mesmo Pelé, o Rei do Futebol, por fim considerado o "Atleta do Século", ficou imune ao racismo, fosse escancarado ou velado. 

 

 

Vários jogadores da recém-convocada Seleção Brasileira para a Copa do Catar já se depararam com falas racistas. Na atual lista de convocados, além de Vinícius Jr. e Richarlison, nomes como Daniel Alves e Neymar estão entre os jogadores que passaram por algum tipo de discriminação ou injúria racial, muitas vezes durante as partidas.

 

 

Como iniciativa para coibir essa prática, no Senado a expectativa é de que seja votado em breve o projeto da Lei Geral do Esporte (PL 1.153/2019), que estabelece punições mais severas ao crime de racismo no esporte.

 

 

 

 

Ofensas

 

O ex-ministro da Igualdade Racial e ex-presidente da Fundação Cultural Palmares, e ligado ao mundo do futebol, Eloi Ferreira de Araújo afirma que todos os atletas negros já foram alvo, de alguma forma, de ofensas racistas.

 

 

“Não há como dissociar as conquistas havidas nas Copas e em outros campeonatos da contribuição dos atletas negros que atuaram nessas edições. Certamente, todos os grandiosos futebolistas negros passaram por alguma manifestação racista. A humanidade ainda não foi educada para amar cada um como se não houvesse amanhã. Amar no lugar de discriminar ou odiar depende de mudança de valores”.

 

 

Para Araújo, "racismo é tudo igual", seja no Brasil, seja em qualquer outro lugar do mundo:

 

 

“É discriminação, é intolerância, é desumanidade, falta de civilismo e civilidade. O racismo é tudo igual, desde um joelho no pescoço, até quando se joga uma banana para o jogador de futebol ou quando se remunera menos um negro ou uma negra que esteja ocupando posto em igualdade, responsabilidade e competências com um não-negro”.

 

 

De acordo com dados do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, 64 denúncias de racismo foram feitas em 2021. Desde 2014, ano em que se iniciou a série histórica, 399 denúncias foram registradas, segundo informações do senador Paulo Paim (PT-RS), autor do Estatuto da Igualdade Racial, sancionado em 2010 pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

 

 

Paim diz esperar que, durante a Copa do Mundo, a Federação Internacional de Futebol (Fifa) promova ações de combate ao racismo.

 

 

“O Brasil é a única seleção a ter jogado em todas as competições e é o maior campeão com cinco títulos mundiais. A Copa do Mundo é um evento extraordinário que consegue reunir pessoas das diversas nacionalidades, cores, raças, religiões, orientação sexual, socioeconômica, idade e outras, em prol do amor pelo esporte, o futebol. Mas, apesar de tanta união e emoção ao redor desse belo evento, nos deparamos com os crimes de racismo”, expôs o senador Paim.

 

 

O senador Romário (PL-RJ), ex-jogador da Seleção Brasileira, o racismo no futebol existe porque reflete a mesma prática da sociedade.

 

 

“O que vemos hoje é um aumento das denúncias, porque tem havido mais discussão na sociedade sobre isso. É uma situação muito triste. O esporte deveria dar exemplo de respeito e o racismo mancha a imagem no esporte”.

 

 

Punição

 

A Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) anunciou em maio deste ano o lançamento da campanha “Basta! Chega de racismo no futebol”, após recorrentes atoas de discriminação racial na Libertadores e na Sul-Americana.

 

 

“A Conmebol considera absolutamente inaceitável qualquer manifestação de racismo e outras formas de violência nos seus torneios. A conscientização, destinada a jogadores, árbitros e torcedores de futebol, será visível por meio de todos os meios de comunicação disponíveis como uma campanha permanente”, dizia o anúncio da campanha.

 

 

Na época houve a alteração do Código Disciplinar, com mudanças no valor das multas aplicadas aos clubes, passando de US$ 30 mil para US$ 100 mil. Também ficou a cargo do órgão judicial competente impor a sanção de disputar um ou mais jogos com portões fechados ou o bloqueio parcial do estádio.

 

 

O projeto da Lei Geral do Esporte (PL 1.153/2019), do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), não ignorou o desafio de enfrentar o racismo e a discriminação nos estádios de futebol e em outras modalidades esportivas. O texto foi aprovado em junho no Senado. A matéria foi remetida à Câmara, onde sofreu alterações. Agora, os senadores precisam fazer nova análise do texto, que altera a Lei Pelé e no qual foram apensados novos projetos que tramitavam no Senado, entre eles o PLS 68/2017.

 

 

 

(Com informações Agência Senado)

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