quinta-feira, 20 de novembro de 2025
Foto: Freepik
A presença de alimentos ultraprocessados na mesa dos brasileiros mais que dobrou desde os anos 1980, saltando de 10% para 23% da dieta nacional. O dado integra uma série de estudos divulgados nesta terça-feira (18) por mais de 40 cientistas, liderados por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), e publicados na revista The Lancet.
O levantamento revela que o cenário brasileiro acompanha uma tendência mundial. Em 93 países analisados, o consumo de ultraprocessados aumentou em quase todos — com exceção do Reino Unido, que se manteve em patamar já elevado de 50%. Apenas os Estados Unidos superam esse índice, com mais de 60% da alimentação baseada no produto industrializado.
Segundo Carlos Monteiro, pesquisador do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens/USP) e coordenador da série, a expansão não é acidental.
“Essa mudança na forma como as pessoas se alimentam é impulsionada por grandes corporações globais, que obtêm lucros extraordinários priorizando produtos ultraprocessados, apoiadas por fortes estratégias de marketing e lobby político”, afirma.
Em três décadas, o consumo triplicou em países como Espanha e Coreia do Sul e alcançou cerca de 32% na China — onde antes representava apenas 3,5%. Na Argentina, o avanço foi menor, mas ainda significativo: de 19% para 29%.
Os pesquisadores destacam que esse aumento ocorre tanto em nações de baixa quanto de alta renda. Nos países ricos, o ponto de partida já era alto; nos mais pobres, o crescimento foi mais acelerado. O padrão também se repete internamente: inicialmente mais presentes entre famílias de maior renda, os ultraprocessados se popularizaram entre todas as classes.
Apesar da renda pesar nas escolhas alimentares, fatores culturais também influenciam. Países desenvolvidos como Canadá chegam a 40%, enquanto nações com perfis econômicos semelhantes, como Itália e Grécia, permanecem abaixo dos 25%.
As publicações lembram que o avanço dos ultraprocessados acompanha o aumento global da obesidade e doenças crônicas, como diabetes tipo 2, câncer colorretal e inflamações intestinais.
Uma revisão de 104 estudos de longo prazo mostrou que 92 deles relacionam diretamente o consumo frequente desses produtos ao maior risco de desenvolver enfermidades graves. A ingestão excessiva de calorias, a menor qualidade nutricional e a presença de aditivos químicos são apontados como fatores centrais.
“O conjunto das evidências apoia a tese de que substituir padrões alimentares tradicionais por ultraprocessados é um dos principais motores do aumento global de doenças crônicas”, concluíram os cientistas.
A classificação dos alimentos, conhecida como NOVA, foi criada em 2009 por pesquisadores brasileiros e divide os produtos conforme o grau de processamento:
Monteiro lembra que o objetivo da classificação é facilitar a compreensão sobre como o processamento interfere na dieta e na saúde, além de orientar políticas públicas como o Guia Alimentar para a População Brasileira.
Os pesquisadores defendem ações imediatas para reduzir o consumo desses alimentos, entre elas:
Para os autores, culpar o consumidor por sua escolha individual distorce a realidade. Eles apontam as grandes corporações como principais responsáveis pela expansão global desses produtos, impulsionadas por marketing agressivo e pelo alto lucro — que chega a movimentar US$ 1,9 trilhão por ano.
“O poder corporativo molda sistemas alimentares inteiros e influencia o que o mundo come”, conclui a pesquisa.
Com Informações de Agência Brasil
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