domingo, 24 de novembro de 2024
Foto: Reprodução/Redes Sociais
Voltando mais uma vez ao assunto que não podemos deixar de focar, retratados nas duas últimas colunas, trago aqui mais alguns pontos para refletirmos sobre os perigos que foram escancarados após esse trágico acontecimento envolvendo página de fofoca e uma “anônima”. Não vou trazer novamente o que aconteceu com a jovem Jéssica, por que todos já devem estar cansados de ouvir, mas vamos tentar observar como algo que deveria ser orgânico está se tornando cada vez mais artificial.
Segundo o que muitos estão observando, e publicando por diversos portais e canais de opinião, incluindo o canal Spotiniks, a chamada “Banca Digital” da Mynd (principal acusada no caso Jéssica) produz de forma artificial o alcance orgânico de suas publicações, citando o exemplo da “farofa da GKay”. No primeiro ano do evento pós pandemia, 2021, influenciadores digitais que somavam juntos cerca de 334 milhões de seguidores, sendo boa parte deles agenciados pela Mynd, incluindo a própria GKay. Aliados às páginas de fofocas, o evento alcançou cerca de 66 milhões de pessoas com as postagens.
No ano seguinte a repercussão foi tamanha que entraram em cena o Multishow, que transmitiu o evento, e diversos patrocinadores como a Avon, Latam e Vivara, que ajudaram a arcar com os R$ 8milhões de custo do evento. Com a máquina por trás dos perfis de fofoca a seu favor, o evento foi um dos mais comentados do ano, além do Multishow ter liderado a audiência na TV por assinatura, entre os jovens de 18 a 24 anos. Foram cerca de 1700 posts, 400 milhões de visualizações e 300 milhões de impressões só sobre esse evento, usando essa milícia para retroalimentar todo o ecossistema do evento.
E não é apenas nesses tipos de eventos que isso ocorre, festivais como Lollapalooza, Coachela e o Rock In Rio, que além da artificialidade da alimentação digital dos eventos, também contaram com apresentações de cantores agenciados pela Mynd, ou pelo menos menções, afinal quem não se lembra da apresentação de Luísa Sonza, no show de Demi Lovato no festival The Town, semanas antes de terminar seu relacionamento com Chico Veiga? Agenciada pela Mynd durante e após o festival a cantora não saiu dos trendings por conta dessas mesmas páginas de fofoca da Banca digital da Mynd. Coincidência?
Mas estou reforçando isso por que? Por que para algumas dessas empresas como a Mynd, “você paga, e o conteúdo é distribuído em várias páginas, como se fosse algo orgânico. Eles conseguem definir quem vai virar assunto na internet”, palavras da influencer Poly Oliveira. Ou seja, isso abre brechas para que a agência seja acusada de ser uma milícia digital, parecido com o tal gabinete do ódio que diziam existir durante o último governo federal. Nesse caso, a atuação seria cobrando para falar bem de celebridades e subcelebridades, e elevar ou derrubar alguém.
Isso dá um poder e tanto, afinal como o MC Daniel divulgou em suas redes recentemente, a própria Choquei o teria ameaçado “digitalmente” por ele não ter aceito fazer uma publicidade com a página. Enquanto isso a Mynd ao se defender diz que apenas realiza a conexão entre os agenciados e as marcas, mas dado o fato que já foi pego por muitos influencers de fora da empresa, que a CEO Fátima Pissarra já teria declarado que mexe nos perfis dos agenciados, junto a seu time.
Somado a isso, em julho de 2021 a agência de fact checking “Aos Fatos”, analisou todas as postagens apenas no Instagram, de 24 perfis de fofoca agenciados pela Mynd, no intervalo de uma semana. Metade desse conteúdo apareceu em mais de um perfil, algumas com textos quase idênticos. Além disso, em divulgação recente do X (antigo Twitter) o perfil da Choquei foi quem mais recebeu notas da comunidade globalmente, recurso criado pela empresa de Elon Musk para adicionar contexto ou sugerir fake news às publicações da plataforma.
Vale lembrar também que essas páginas não se restringem apenas à publicações sobre celebridades e suas vidas pessoais, tendo conteúdos políticos, incluindo sobre temas como a PL 2630 (chamada de PL das Fake News ou PL da Censura), o que nos leva a pensar o porque empresas como a Mynd e seus agenciados querem tanto essa regulamentação da internet, seria por medo de terem seu “negócio do cancelamento” exposto, ou para que não tenham concorrência, visto que sendo do espectro político do atual governo provavelmente fariam parte do “escritório de fiscalização”?
Ainda há muito a se descobrir, sobre esse caso das atuações da Mynd, e ainda há muito o que se pensar, como por exemplo se vale a pena aprovar uma lei que regulamente a internet, se as empresas que atuam no ramo não são regulamentadas quanto à sua atuação mercadológica enquanto empresa. Vale ainda frisar que na publicação dessa coluna, o site da Mynd, o perfil da CEO da empresa e o de vários influenciadores agenciados, ou ex agenciados, da empresa havia sido retirado do ar no X e no Instagram.
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De acordo com a presidente da equipe, Kenia Leite, o objetivo é figurar entre as 5 melhores equipes da competição.