Em minha última coluna, publicada dia 26 de dezembro, trouxe a polêmica envolvida no caso da morte da jovem Jéssica Canedo. Pretendia não falar mais sobre o assunto, por se tratar de temas bem sensíveis (incluindo o modo como se deu a morte da jovem, por suicídio), mas um vídeo publicado pelo youtuber Daniel Penin me fez trazer esse assunto novamente, para tentar colocar a “outra face” dessa dita cultura do cancelamento, ou melhor, do mercado do cancelamento.

Para início de tudo, vale a pena relembrar o caso da Jéssica Canedo: tudo começa quando prints são divulgados de uma suposta conversa entre a jovem e o humorista Whindersson Nunes, divulgado inicialmente pela página “Garotx do Blog”, posteriormente replicada por mais de 30 páginas de fofoca, incluindo a “Choquei”. Quando a jovem postou um pedido que a deixassem em paz e desmentindo os prints, os perfis dos donos dessas páginas teriam também comentado nessa postagem, “linchando” virtualmente a garota.

Porém o que Daniel traz de informação em seu vídeo, é que no vídeo postado por Whindersson, após o suicídio de Jéssica, ele deixa subentendido que existe alguém por trás dessas páginas de fofoca “Eu sei quem é que é errado, é o topo da pirâmide. Sabe quem é? É quem lucra com isso, é quem vai pra longe, gasta dinheiro e toma champanhe”, diz o humorista e ex-youtuber em seu desabafo.

Ainda segundo o vídeo de Penin, enquanto uma página e uma pessoa foram escolhidas como “cortina de fumaça”, no caso a Choquei e seu dono Rafael, a “cabeça da pirâmide” ficava encoberta nas acusações de fake News. Pela descoberta de Daniel, apresentada no vídeo, a empresa Mynd 8, e sua CEO Fátima Pissarra, seriam a mente por trás de toda a “Banca Digital” (hub de páginas de fofoca até então agenciadas pela Mynd).

Fora o caso Jéssica-Choquei, outro caso de fake news envolvendo a Mynd e a Choquei (quando a segunda teria saído do hub de agenciadas pela primeira), foi o caso Ratanabá, quando a Choquei publicou uma notícia sobre essa possível cidade perdida na Amazônia, o ex Ministro da Cultura, atualmente Deputado Federal, Mario Frias compartilhou, o que levou as páginas de fofoca a dizer que Ratanabá era uma fake News da extrema direita. A Mynd e a Choquei foram investigadas à época.

Outro porém, é o fato de Pissarra (que gosta de ser chamada de Influenciadora de Influenciadores) já ter dito em entrevistas que já fez “gestão de crise” estando com horas junto à equipe apagando comentários, o que deixa subentendido que eles tem acesso total ao perfil de seus agenciados, que além das 34 páginas de fofoca ainda possuem nomes como Luisa Sonza, Pabllo Vittar, Babu Santana e Cléo Pires. Detalhe que a CEO é comunicadora e psicóloga.

Penin vai um pouco além, para o espectro político, com dados que ligam a Mynd com o Governo Federal, mas foquemos aqui no campo sociocultural. A empresa citada possui um negócio infinitamente lucrativo. Eles tentam fazer sem deixar rastros, mas há pessoas que conseguem buscar esses rastros na internet, se tiverem o faro para procurar. Isso nos leva à muitas discussões, entre elas a regulamentação das redes e a valorização do jornalismo, o que devo trazer à discussão em breve pois são pontos que podem se estender bastante.

Antes de encerrar, gostaria de lembrar uma frase dita por uma pessoa que cometeu atos horríveis em sua época e usou essa frase para justificar o que estava fazendo. Joseph Goebbels ao justificar seus atos em prol do regime totalitário o qual defendia, disse uma vez que “uma mentira contada diversas vezes, torna-se uma verdade”, por isso não devemos acreditar em qualquer coisa que se vê por aí, sem nem pesquisar pelo menos um pouco.

Dito isso, na data da publicação dessa, o site da Mynd 8 está fora do ar. Páginas como a Choquei, estão sem postar nada ou quase nada há alguns dias. Essa coluna não tem como intenção ser tratada como verdade absoluta, mas sim trazer reflexão e a “discussão” sobre o ocorrido, de modo que não existam outras “Jéssicas” da vida.

Este texto não reflete necessariamente a opinião do Jornal Somos.