quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

Câncer: estudo brasileiro avança em tratamento inovador para alívio da dor e recruta pacientes

POR Cairo Tobias | 15/01/2025

Na primeira fase, pesquisa liderada por oncologista mostrou respostas positivas em mais de 60% dos casos de neuropatia periférica

Câncer: estudo brasileiro avança em tratamento inovador para alívio da dor e recruta pacientes

Foto: Reprodução

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Considerado um dos principais tratamentos de combate a diferentes tipos de câncer, a quimioterapia pode provocar efeitos colaterais e, um dos mais comuns, é a chamada “neuropatia periférica”, que leva à perda de sensibilidade nas extremidades do corpo, como mãos e/ou pés. Desde 2018, a oncologista Mariane Fontes, lidera uma pesquisa inédita para tratar quem sofre com essas consequências e que, atualmente, está na fase dois, recrutando voluntários no país. Ao todo, serão 52 participantes, atendidos por clínicas particulares e do Sistema Único de Saúde (SUS). A condição afeta até 70% dos pacientes, segundo a médica.

 

“A quimioterapia é um tratamento curativo, mas infelizmente essa reação adversa é comum e pode acontecer em graus e intensidades diferentes, fazendo com que 30% a 40% das pessoas permaneçam com os sintomas a longo prazo. Isso impacta muito a qualidade de vida: algumas não conseguem virar uma página, segurar um copo ou vestir a roupa. Este estudo é importante porque, até então, a única forma de se controlar essas limitações é reduzir a dose ou interromper a quimioterapia, prejudicando o resultado final do combate ao câncer”, diz a especialista.

 

A pesquisa testa a molécula PSP neuro serum, um remédio tópico para ser usado exclusivamente nas mãos. Na primeira etapa, foram avaliados 24 pacientes, sendo que metade fazia uso de taxanos (TXN), uma droga utilizada para tratar vários tipos da doença, e, os demais, eram submetidos a quimioterapias com outras substâncias. Segundo a médica, ao observar todos os participantes, 44% tiveram resposta positiva ao creme. No entanto, ao verificar apenas quem fazia uso de taxano, o percentual subiu para 64%.

 

“Verificamos uma maior atividade da molécula nessa população. Por isso, agora, estamos restringindo a participação a esse grupo. Nesta nova etapa, os voluntários estão sendo randomizados para receber remédio ou placebo, a fim de confirmar a eficácia do primeiro estudo, quando a medicação foi administrada para todos”, explica Mariane.

 

Resultados apresentados durante congresso europeu

 

Os resultados da primeira fase da pesquisa foram apresentados durante o congresso da Sociedade Europeia de Oncologia Médica (ESMO), maior evento  sobre câncer da Europa e um dos mais importantes do mundo no tema, durante sessão oral em setembro de 2022. 

 

“Os resultados do estudo até aqui são muito animadores, percebemos uma melhora significativa em quem sofre com essa condição. Como não há alternativas terapêuticas contra a neuropatia periférica atualmente, nossa investigação tem uma relevância ainda maior, pois pode impactar diretamente na qualidade de vida de uma parcela considerável dessa população”, reforça a oncologista e líder da pesquisa.

 

Entenda o que é a neuropatia periférica 

 

A chamada “neuropatia periférica induzida por quimioterapia” é considerada um efeito colateral pouco conhecido, mas que acomete pacientes em algum nível. Certos quimioterápicos atacam o sistema nervoso e são considerados neurotóxicos, causando dormência e dor em extremidades que podem levar a dificuldades para a realização de atividades comuns do dia a dia, como escovar os dentes. A neuropatia pode ser exclusivamente sensitiva ou, quando mais grave, pode resultar em perda de movimentos.

 

É importante ressaltar que a gravidade dos casos varia, dependendo inclusive da quantidade de medicamentos e sessões de quimioterapia.

 

Como se candidatar à pesquisa

 

A médica explica que a pesquisa é aberta a qualquer pessoa que faça uso de taxano, independentemente do local e do tipo de unidade - pública ou privada -, em que esteja em tratamento. Os interessados, com 18 anos ou mais, devem ir em uma das nove unidades selecionadas para avaliação. A previsão é que a participação do voluntário dure um mês e, nesse período, ele terá que ir três vezes à clínica. Trinta dias após o fim do acompanhamento, será necessário retornar para mais uma visita.

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