sexta-feira, 29 de março de 2024

Após ser acusado por Moro de interferência política, Bolsonaro diz que reestabelecerá a verdade

POR Ana Carolina Morais | 24/04/2020
Após ser acusado por Moro de interferência política, Bolsonaro diz que reestabelecerá a verdade

Jorge William / Agência O Globo

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O presidente Jair Bolsonaro informou, por meio de rede social, que irá conceder uma entrevista coletiva, hoje, sexta-feira (24), às 17h, para falar sobre a saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça e Segurança Pública e sobre a demissão de Mauricio Valeixo, diretor-geral da Polícia Federal (PF). Após ser acusado de interferência política, o presidente afirmou, em sua publicação no Twitter, que “reestabelecerá a verdade”.

 

 

 

 

A publicação no Diário Oficial da União (DOU), nesta manhã, da exoneração do diretor da PF surpreendeu Moro e motivou sua convocação para uma coletiva de imprensa às 11h, onde noticiou seu pedido de demissão. A Polícia Federal é vinculada à pasta da Justiça.

 

 

Motivação

 

Na ocasião, o agora ex-ministro afirmou não ser contrário a modificação no comando da Polícia, desde que a mesma possua motivo fundamentado. “Presidente, eu não tenho nenhum problema em troca do diretor, mas eu preciso de uma causa, [como, por exemplo], um erro grave”, disse. Para Moro, a problemática não é a troca em si, mas sim a motivação.

 

 

Coleta de informações

 

Segundo Sergio Moro, Bolsonaro deseja possuir um contato pessoal para efetuar uma coleta de informações na PF, papel este, que não compete ao órgão policial. “O presidente me disse mais de uma vez, expressamente, que ele queria ter uma pessoa do contato pessoal dele, que ele pudesse ligar, que ele pudesse colher informações, que ele pudesse colher relatórios de inteligência, seja diretor, seja superintendente. E realmente não é o papel da Polícia Federal prestar esse tipo de informação”, disse.

 

 

O ex-ministro ainda realizou uma comparação ao período em que conduziu os processos da Operação Lava Jato, quando atuava como juiz federal. “Imaginem se durante a própria Lava Jato, ministro, diretor-geral, presidente, a então presidente Dilma, o ex-presidente, ficassem ligando para o superintendente em Curitiba para colher informações sobre as investigações em andamento?”, interrogou.

 

 

Interferência política e autonomia da polícia

 

Para Moro, a autonomia da Polícia Federal “é um valor fundamental que temos que preservar dentro de um estado de direito”. Ele ainda relatou que Bolsonaro havia afirmado que a ocasião se tratava de interferência política. “Falei para o presidente que seria uma interferência política. Ele disse que seria mesmo”, revelou.

 

 

Combate a corrupção

 

A saída do Ministério seria uma forma de preservar sua própria biografia para não entrar em contradição com o compromisso anteriormente assumido, com o próprio Bolsonaro, de se opor a corrupção. “Tenho que preservar minha biografia, mas acima de tudo tenho que preservar o compromisso com o presidente de que seríamos firmes no combate à corrupção, a autonomia da PF, contra interferências políticas”, revelou Moro.

 

 

Mentiras

 

Em contrariedade ao que aparece no DOU, Moro informou que não assinou a exoneração de Valeixo – que não requereu sua própria saída. Consta, na publicação, a assinatura do então ministro e a informação de que o ex-diretor da PF saiu “a pedido”. Além disso, afirmou também que a Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) mentiu ao dizer, em uma rede social, que a demissão fora requerida.

 

“Eu não assinei esse decreto e em nenhum momento o diretor da PF apresentou um pedido oficial de exoneração (...) Não existe nenhum pedido que foi feito de maneira formal. Sinceramente, fui surpreendido, achei que isso foi ofensivo. Vi depois que a Secom confirmou que houve essa exoneração a pedido, mas isso de fato não é verdadeiro”, declarou.

 

 

Moro ainda revelou que esta última atitude demonstra que Bolsonaro o queria fora do governo. “Para mim esse último ato é uma sinalização de que o presidente me quer realmente fora do cargo”.

 

 

“Carta branca”

 

O ex-ministro ainda contou que, quando foi convidado pelo presidente para assumir a pasta da Justiça, foi lhe conferida “carta-branca” para nomear quem desejasse, inclusive para o comando da PF. “Foi me prometido na ocasião carta branca para nomear todos os assessores, inclusive nos órgãos judiciais, como a Polícia Rodoviária Federal e Polícia Federal”, afirmou.

 

 

Repercussão

 

A saída de Moro do alto escalão do governo federal repercutiu em diversas esferas, tanto no exterior, quanto em âmbito nacional. Entre as manifestações brasileiras, constam comentários efetuados por governadores, inclusive de Ronaldo Caiado (DEM). Por meio de seu Twitter, o governador de Goiás lamentou a situação e afirmou que o ex-ministro prestou grandes serviços ao país relacionados a moralização e ao combate à corrupção.

 

 

 

 

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