sexta-feira, 19 de abril de 2024

Rio Verde

11 de setembro, o dia Nacional do Cerrado

POR Jornal Somos | 11/09/2018

Comemorada todo 11 de setembro, a data celebra o segundo bioma mais importante do país

11 de setembro, o dia Nacional do Cerrado

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O Cerrado, considerado um berço das águas, tem uma importância estratégica para o abastecimento e manutenção de uma rica biodiversidade. A conservação do bioma e a gestão territorial são elementos necessários para garantir água para o País.

 

Para nos esclarecer melhor sobre o Cerrado, Renan Machado, Superintendente do Meio Ambiente da Secretaria do Meio Ambiente de Rio Verde, biólogo e engenheiro ambiental, falou sobre a importância do Bioma em uma entrevista ao Jornal Somos.

 

 

Qual a importância do Cerrado para o Brasil?

Essa é uma informação muito retórica se não souber interpretá-la. O cerrado hoje como biom é considerado o segundo maior, perdendo para a floresta amazônica, é conhecido como a caixa d’água do Brasil. E como funciona, praticamente toda a água consumida no Rio de Janeiro, São Paulo vem daqui, nasce aqui, então, o cerrado é o responsável por reabastecer essa caixa d’água. É um grande captor de chuvas, ele filtra essa água que vem das chuvas e reabastece o nosso lençol freático. Então outras matas e florestas, outros biomas, não tem essa capacidade igual o cerrado tem. O cerrado é considerado uma floresta de cabeça para baixo, então o que você vê para cima, é quatro ou cinco vezes maior para baixo. Essa é a grande importância do cerrado, as raízes das árvores ativas no cerrado alcançam quilômetros de distância e, por isso, o grande abastecimento, porque essas raízes são responsáveis tanto para trazer a água para cima quanto puxar a água para baixo também, as raízes tem uma grande importância em relação à fisiologia vegetal da planta em si. O cerrado tem essa principal característica, as raízes longas, todas furadas, e justamente esses furos que permitem a entrada e saída da água.

 

Como o cerrado pode atuar nas variações climáticas?

O cerrado não tem tanta influência sobre as variedades climáticas. O que dá alteração climática é justamente a capacidade que tem de oxigênio proliferar em cima de CO2 do dióxido de carbono que temos em cima da atmosfera. O que dá essa sensação térmica de calor é uma grande quantidade dessa substância na atmosfera, então, quando você consegue puxar ela e ao mesmo tempo emitir o oxigênio, te dá essa sensação de frescor vindo do ar. Não é muito da característica do cerrado ter essa troca de oxigênio com o Co2, porque quem faz essa troca são as folhas, e na fisiologia vegetal, o cerrado não tem uma característica de árvores que possuem grande quantidade de folhas, e principalmente na época da seca ,ela perde essa folha.  É uma forma de proteger que a árvore tem, ela joga essas folhas fora para não desidratar, para não perder água e até mesmo absorver mais a quantidade de energia que tem nessas folhas. Para armazenar, como se fosse a nossa gordura, o cerrado faz a mesma coisa, ele armazena essa energia absorvendo das folhas, como absorveu e a folha ficou sem energia, ela sofre essa liberação. Então, não é uma grande característica do cerrado ter trocas gasosas. A principal influência é onde tem uma grande aglomeração, principalmente uma floresta amazônica, ou até mesmo a caatinga, a mata atlântica. Quando você tem um grande agrupamento de árvores do cerrado, isso dá uma massa vegetal significativa. Infelizmente, isso é o que tem acontecido: as pessoas estão deixando ilhas, chamamos isso de ilhas ecológicas, desmatam tudo e deixam só uma ilhazinha de massa verde, isso é que dá alteração dessas trocas gasosas, porque você tem uma pequena massa verde, agora, se você pegar todo esse cerrado e deixar uma grande concentração de massa verde, não é só a folha que transpira, temos o caule também. A troca gasosa não é tão significativa, mas sim, ela tem uma significância para o cerrado. Mas lembrando que o principal foco do cerrado não são as trocas gasosas e sim essa absorção da água para abastecer nosso lençol freático. Essa é a principal importância.

 

Neste dia comemorativo o que podemos fazer para colaborar com a preservação do cerrado?

 

A preservação começa na cabeça das pessoas. A gente chama isso de educação ambiental, esse é o principal foco, acabar com essa questão de ‘ilhas’ que eu citei anteriormente, essas ilhas ecológicas. Preservando a fauna também, porque a gente tem animais que são exclusivos do cerrado, então quando geram essas ilhas, o animal não consegue sobreviver nesse pequeno espaço, porque eles precisam comer também, se você deixar uma ilha muito distante da outra, para o animal atravessar, eles ficam propícios a seus predadores. A fauna do cerrado não é conhecida por ter animais de grande porte, então, essa travessia de uma ilha a outra gera um custo muito alto para eles, e eles tendem a ficarem isolados nessas pequenas ilhas, gerando um prejuízo muito grande para a nossa fauna e flora. Uma forma de preservar é fazer aqueles famosos corredores ecológicos, quando você liga uma ilha na outra através de um corredor ecológico também, principalmente visando essa variedade de fauna que a gente tem, ajudando na  travessia de uma ilha para a outra. Outro grande ganho, fisiologicamente falando, pensar nessas árvores como se fossem seres humanos, a gente tem variabilidade genética, por isso que se um ser humano sempre ficar isolado e ficar reproduzindo com filhos vai ter problemas, as árvores vão ser mais ou menos da mesma forma, você tem que ter variabilidade genética. Quando você tem uma ilha ecológica e as plantas se multiplicam só com aquelas da mesma ilha, não dá uma variabilidade genética, e qualquer doença ou fungo consegue dizimar toda aquela população vegetal. Mas, quando você consegue ligar essa ilha ecológica com a outra e ter esse cruzamento de variabilidade genética entre as plantas ,você propicia elas a terem mais resistência, isso é necessário a ter em questão da preservação. Uma coisa esclarecida, que os grandes problemas de desmatamento  trazem é você tirar do cerrado, no caso, a mata no pé do cerrado, para fazer o pastoreio. Existe um negócio chamado cultura sustentável ou desenvolvimento sustentável onde você não precisa desse espaço todo para você ter uma lavoura totalmente produtiva ou animais totalmente produtivos e desenvolvidos, você não precisa desse espaço todo, você consegue fazer isso de uma forma confinada. Essas são técnicas sustentáveis e você consegue fazer isso, os produtores precisam ter isso na cabeça.

 

Eu gosto muito de uma frase, um provérbio indígena que fala assim: "Só quando o último rio secar, a última folha cair, é que o homem vai ver que a gente não consegue comer dinheiro." Penso que essa é uma forma da gente pensar na educação ambiental e as pessoas terem a consciência de que dinheiro não é tudo.

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