quinta-feira, 28 de março de 2024

MUNDO

A política por trás de O Rei Leão

POR | 03/11/2018

Alerta de spoiler!

A política por trás de O Rei Leão
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O Rei Leão é um filme da Disney, lançado em 1994. É uma alegoria inspirada em A Tragédia de Hamlet, obra de Shakespeare que fala sobre política. Essa animação da Disney foi produzida simultaneamente a Pocahontas, que era a verdadeira aposta da empresa. Após o lançamento de ambas as obras, O Rei Leão surpreendeu a todos, sendo na época a segunda maior bilheteria de todos os tempos, e é até hoje a animação desenhada a mão de maior bilheteria da história.

 

 

O enredo se passa na savana africana e conta a história do jovem leão Simba, que foge de sua terra natal após a morte de seu pai, o rei Mufasa, acreditando que o acidente fosse sua culpa. Mas na verdade, o rei havia sido vítima de uma emboscada armada por seu irmão Scar que queria tomar o trono. Scar também havia ordenado a morte de seu sobrinho para as hienas, que eram suas subordinadas. Após a morte do rei e desaparecimento do príncipe, Scar assume o reino.

 

 

Ao assumir o reino, Scar coloca as hienas acima dos outros animais, porém elas continuam como suas submissas. A antiga rainha Sarabi e as outras leoas são muito maltratadas e tidas como responsáveis pela falta de comida, já que são elas que caçam. O reino enfrenta grandes dificuldades e parece que não há saída até que Simba retorna, surpreendendo a todos que pensavam que ele havia morrido, e há ali um embate entre os dois leões e as hienas e as leoas, que estão do lado do príncipe. No final, a justiça é feita e tudo acaba bem. O reino é salvo.

 

 

No decorrer da história, e na estética do filme é possível fazer diversas análises. Por exemplo, o rei Mufasa é desenhado muito maior que seu irmão para mostrar que ele era um rei grandioso. Seu irmão Scar possui um ar e traços sombrios para mostrar desde o início a sua índole. Durante o reinado de Mufasa, o reino é representado com muitas cores e céu azul, completamente o oposto do reinado de Scar, quando quase todas as manadas se afastam ou morrem, e o tempo é sempre fechado.

 

 

Inicialmente, o rei trata a todos com justiça. Ele ensina a seu filho que o equilíbrio mantém o ciclo da vida em harmonia. Podemos interpretar isso como a igualdade e justiça que mantém uma sociedade em paz. O rei era amado e respeitado por todos por ser um bom líder. Menos pelas hienas, que causavam problemas constantemente, ordenadas pelo irmão do rei. Elas representam pessoas alienadas, que podem ser facilmente manipuladas por um líder que quer somente tomar o poder para si.

 

 

Scar e as hienas planejam o golpe em uma cena muito simbólica. O leão posa nas alturas enquanto as hienas marcham na sua frente. Seu discurso diz que elas são estúpidas, mas serão amadas por executarem todas as suas ordens. Elas respondem a ele em uníssono, o que sugere que são todas iguais, incapazes de pensar individualmente. Ele promete sucesso a elas, mas ao mesmo tempo tem uma postura ameaçadora, típica de um ditador. Os próprios produtores afirmaram que essa cena foi inspirada na marcha nazista.

 

 

A morte do rei, envolvia a debandada de uma manada de gnus. Essa cena é caótica e diferente, pois todos os animais do filme são racionais, mas os gnus parecem nem notar que o rei e o príncipe estavam no caminho. Novamente a representação de um povo sem conhecimento agindo em favor da oposição. O assassinato do rei representa um golpe de Estado. A fuga do príncipe, que é dado como morto, pode ser interpretada como o exílio. Nessa fase o príncipe conhece dois personagens.

 

 

Timão e Pumba, suricate e javali respectivamente, foram rejeitados pelo seu lugar de origem por não se encaixarem. Podem representar os intelectuais ou aqueles que se opõem a regimes totalitários. Eles ficam amigos do príncipe e são fortes influências na formação de seu caráter. Após ficar adulto, o príncipe reencontra sua amiga de infância, Nala, uma leoa que estava caçando longe do reino porque lá não havia mais recursos. É ela quem conta a ele que todos pensam que ele morreu e como o reino está decadente desde então.

 

 

A leoa pede a ajuda do príncipe, mas ele resiste, pois se sente culpado pela morte do pai. Mas depois, Simba tem uma visão de seu pai (algo parecido acontece com Hamlet), e então ele fica inspirado a salvar o reino que é dele de direito. Chegando lá, ele encontra tudo seco e morto, o que seria um país em crise pela má gestão. Então ele confronta seu tio, que confessa ter arquitetado a morte do rei. Depois disso acontece um grande embate entre os amigos de Simba, e as leoas contra as hienas de Scar, o que pode ser um grupo revolucionário contra as forças militares. A savana pega fogo por causa de um raio.

 

 

Com medo, Scar diz ao príncipe que só matou o rei por ideia das hienas. Nesse momento elas o escutam e percebem que foram apenas massa de manobra para seus planos, e que na verdade ele não queria ajuda-las, ele só queria ser rei. Após uma luta intensa entre os leões, Scar cai e as hienas o cercam. Ele tenta enganá-las novamente, mas dessa vez elas ficam contra ele. Então começa a chover, o fogo se apaga, os rios se enchem. Simba toma o reino para si.

 

 

No final, tudo aparentemente volta a ser como antes, muito colorido e alegre, o que indica um governo próspero. Não são mostradas as hienas, o que pode simbolizar, utopicamente, que o reino teria atingido a equidade plena, de forma que ninguém tinha vontade de se opor. A cena final se assemelha a cena inicial, o que representa o equilíbrio do ciclo da vida. Simba, agora rei, aparece com Nala, o filhote do casal, e seus amigos Timão e Pumba, o que significaria o fim do exílio.

 

 

A animação tem tantos níveis, que é possível ter uma interpretação diferente a cada vez que é assistida. Seu contexto político é poderoso, e alerta sobre o perigo que a vulnerabilidade de uma população alienada pode oferecer quando aproveitada por um líder maldoso. Em contrapartida, também dá esperança mostrando que um governo é sustentado pelo seu povo, e um ditador só pode ser derrubado quando o povo aprende seu poder e o confronta diretamente.

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