quarta-feira, 08 de maio de 2024

Goiás

MP investiga médicos do HDT por fraude em folha de ponto

POR Jornal Somos | 19/02/2020
MP investiga médicos do HDT por fraude em folha de ponto

Montagem/reprodução

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Sete médicos estão sendo investigados por fraudes nas folhas de ponto no Hospital de Doenças Tropicais (HDT), de Goiânia. As informações são resultado de uma reportagem de denúncia realizada pela TV Anhanguera, que acompanhou a rotina de trabalho dos profissionais da medicina em que mostra imagens deles chegando mais tarde e saindo antes do final dos horários, mas em que assinaram as folhas marcando horários exatos.

 

Agora, o Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO), assim como a Secretaria de Saúde e o próprio HDT investigam sete médicos, entre dermatologistas e infectologistas, especialidades de referência da unidade hospitalar, por fraudes nos registros de horário de trabalho. As imagens analisadas para a reportagem são de câmeras de segurança do Hospital durante três meses de investigação.

 

O HDT é público e recebe dinheiro público para se manter, entre eles do Sistema Único de Saúde (SUS), enviado pelo governo federal. Segundo, ainda, a reportagem, os médicos que trabalham no hospital são concursados e recebem em média R$ 15 mil por mês para trabalhar 20 horas por semana. O salário é calculado com base nas horas que eles alegam ter trabalhado, já que todos são dispensados de bater o ponto eletrônico, o que só acontece porque, além de médicos, eles também orientam estudantes de medicina.

 

De acordo com o diretor do HDT, Roger Moreira, o fato dos números de consultas realizadas pelos sete médicos suspeitos de fraude serem menor do que o número de pacientes que eles deveriam atender, chamou a atenção da direção do hospital. A direção do hospital calcula um prejuízo de mais de R$ 600 mil com as fraudes.

 

A Secretaria de Saúde também abriu um processo para investigar a fraude e saber o tamanho do prejuízo. O Secretário de Saúde de Goiás Ismael Alexandrino disse que irá tomar as devidas providências para corrigir o problema, assim que eles forem comprovados.

 

O infectologista Boaventura Braz é o responsável pela fiscalização das folhas manuais de frequência dos médicos assim como coordena a Comissão de Ética do Hospital. No entanto, de acordo com a investigação da reportagem, além de aprovar as folhas fraudadas, os documentos mostram que ele também não cumpriu a carga horária prevista em algumas datas. Ele afirmou que tem “a segurança de que o meu supervisor fez todo o acompanhamento das minhas preceptoras ou os meus preceptores e obviamente isso tudo é acompanhado numa programação anual”.

 

Ainda dentro da matéria, a médica Mayra Ianhez respondeu na porta do hospital público que sempre fica na unidade médica. Então foi questionada pelo repórter já que eles gravaram a mesma em atendimento particular durante o horário que na folha de ponto assinada por ela, afirmava estar no Hospital. Ela então afirmou que “acha que estar, deve estar, mas... durante a semana a gente repõe. Mas assim, a gente não sai enquanto todos os pacientes não tiverem sido atendidos”.

 

Um dos investigados é o médico gastroenterologista Rodrigo Sebba que, após a denúncia, e de ser notificado da investigação pelo Ministério Público, o médico pediu demissão do HDT. Em nota escreveu que sempre cumpriu seus horários e que, em mais de 20 anos, nunca recebeu reclamações em relação a isso. O médico disse ainda que sempre atendeu todos os pacientes agendados.

 

As câmeras também filmaram o dermatologista Danilo Augusto Teixeira, que em nota, que nunca deixou de atender pacientes ou de realizar cirurgias e, como médico preceptor, ou seja, que se dedica também a ensinar estudantes de medicina, precisa estudar, preparar aulas e elaborar artigos para apresentações em congressos. Já a médica Camila de Barros Borges declarou que fica no hospital até a hora que lhe é determinada e que cumpre todos os horários, além de orientar os residentes. A investigação também aponta a infectologista Luciana de Souza Lima que em nota, que exerce todas as funções e horários e que tem 86 horas positivas no hospital. (todas as notas estão na íntegra ao final desta notícia)

 

Uma das dermatologistas que aparecem na reportagem, não foi encontrada pela mesma, assim como não emitiu nenhuma nota sobre o mesmo.

 

NOTAS

 

Nota do Hospital de Doenças Tropicais

Em resposta, a diretoria geral do HDT informa que o controle de segurança de entrada e saída da médica em questão não evidenciou compensação de horas não cumpridas em dia anterior, mostrando divergência com a carga horária registrada manualmente pela profissional. O banco de horas é resultado da carga horária mencionada pela profissional em seu controle manual. Entretanto, no caso em questão, quando comparado o registro feito manualmente com o controle eletrônico da catraca de acesso ao hospital, os horários registrados, em sua maioria, são divergentes. Os profissionais sujeitos a controle de frequência por ponto manual são obrigados a declarar o horário correto de entrada e saída na unidade, não havendo regime de compensação automático de horas. O hospital esclarece que a Secretaria Estadual de Saúde de Goiás veda o cumprimento de carga horária na modalidade de sobreaviso, devendo esta ser totalmente cumprida de forma presencia.

 

Nota do médico Rodrigo Sebba

“Que sempre exerceu seus horários e que, em mais de 20 anos, nunca teve reclamações da diretoria e dos pacientes, em relação aos horários de atendimentos. Sempre atendeu todos os pacientes agendados. E além disso sempre trabalhei no hospital como preceptor da residência médica, orientando residentes e fazendo pesquisas. Poderiam fazer também uma pesquisa com os nossos pacientes atendidos para verificar a qualidade do atendimento e o grau de satisfação. Podem também verificar na recepção do hospital se algum dia deixei de atender qualquer paciente, inclusive vários que não estavam agendados, eram atendidos por mim como encaixe rotineiramente. Essa informação pode ser facilmente identificada no sistema de consultas e com os atendentes da recepção”.

 

Nota da médica Luciana de Souza

“Sou funcionaria desde 1997, entrei na residência, desde então exerço todas as minhas funções e horários e que inclusive tem 86 horas positivas no HDT e que a diretoria do hospital tem dificultado os médicos a folgar essas horas positivas”.

 

Nota da médica Camila de Barros Borges

Eu tenho a dizer que estou tranquila, faço parte da equipe de preceptores do HDT, ou seja médicos que contribuem com a formação de novos médicos especialistas. O HDT não é um hospital só de assistência, ele é um hospital escola e eu faço parte desta equipe que forma novos profissionais. Para tanto fico no hospital até a hora que me é determinada, temos escalas de finais de semana e feriados, que cumpro regularmente, orientamos os residentes com trabalhos e pesquisas. Enfim, exerço a minha função de forma correta e cumpro tudo que meu cargo exige.

 

Resposta do médico Danilo Augusto Teixeira

O trabalho como médico preceptor envolve além de atendimento ambulatorial e cirurgia eletivas, a assistência à residência médica de dermatologia no hospital. Para tal, temos que estudar, preparar aulas, orientar teses de conclusão de curso, elaborar artigos científicos e apresentações em congressos. Neste fim de semana, revisei dois trabalhos para serem mandados para o Congresso Brasileiro de Cirurgia Dermatológica e, ontem à noite, mais um trabalho. Fomos premiados como melhor trabalho no Congresso de Cirurgia Dermatológica de 2019, e agraciado com prêmios em Congressos de Dermatologia internacionalmente. Além disso, oriento residentes (médicos em especialização) nos fins de semanas e datas festivas (Natal, Réveillon e Carnaval), além de orientar acompanhamento de procedimentos cirúrgicos em outros horários. Tudo isso fora dos horários estabelecidos há mais de cinco anos. Como médico assistente, não deixo de atender os pacientes e de realizar as cirurgias. Nunca deixei um paciente sem atendimento e já participei de tantas outras atividades (atendimento gratuito a população nos fins de semana, aulas de conscientização sobre fotoproteção, análise de currículos de candidatos a residência médica) e comissões (vice-coordenador da Coreme por dois anos e membro da Coreme por mais dois anos) neste hospital.

 

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