sexta-feira, 29 de março de 2024

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Hoje é o Dia Mundial da Prevenção ao Suicídio, confira nossa entrevista especial

POR Jornal Somos | 10/09/2018
Hoje é o Dia Mundial da Prevenção ao Suicídio, confira nossa entrevista especial

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No Brasil, a cada 45 minutos, ocorre um suicídio. Os dados mundiais indicam que ocorre uma tentativa a cada três segundos e um suicídio a cada 40 segundos. No total, chega-se a 1 milhão de suicídios no mundo. Provocar o fim da própria vida é uma das principais causas das mortes entre jovens de 15 a 29 anos e também de crianças e adolescentes.


Pensando nisso, o Jornal Somos fez uma série de matérias especiais sobre o assunto. E em virtude de hoje (10) ser o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, a psiquiatra e professora Gabrielly Cruvinel falou um pouco sobre o assunto.


O que você considera que seja uma causa mais forte para chegar ao ponto do suicídio?

São vários os fatores que levam a pessoa a chegar a esse ponto, então, entram fatores psicológicos, fatores biológicos, eventos adversos, questão ambiental, é bem complexa essa rede. O que a gente sabe é que 90% dos casos de suicídio, a pessoa tem um transtorno mental de base, um dos mais prevalentes, por exemplo, é a depressão.

 


Por isso que a campanha diz tanto sobre a depressão?

Sim, porque tem estudos que mostram que 50% das pessoas que cometeram suicídio tinha depressão, eles foram investigar e o índice é altíssimo, então é a consequência mais grave dessa doença.

 


O que está sendo feito para ter essa prevenção? Quais os dados de Rio Verde?

Na verdade, desde 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria fez uma cartilha de prevenção ao suicídio. Uma entidade também que bate muito nessa tecla de prevenção é a CVV (Consciência de Valorização à Vida) que começou em alguns estados. Começou no RS e foi ampliando para outros estados, a intenção deles é até 2020 estar funcionando no país todo com número 188.  São voluntários que ficam lá dispostos a oferecer ajuda para quem está passando por um momento difícil, que está com essa ideação suicida, que está desesperado, então, essas pessoas ficam lá disposta a estar oferencendo esse suporte.


A gente não tem esses dados de Rio Verde, até porque é muito difícil. Q que você tem lá de dados da Organização Mundial de Saúde, você pode duplicar, triplicar. Em Rio Verde, que eu saiba, não há nenhum dado publicado assim.

 


Quais são os principais fatores de risco?

Os homens, por exemplo, conseguem se matar muito mais que as mulheres, mas, as mulheres tentam mais. Pessoas que não se engajam muito em atividades sociais, ficam mais isolados. Existem dois principais: presença de transtorno mental e história familiar, além, também, da tentativa de suicídio prévio, se já tentou anteriormente, corre o risco em 5,6 vezes mais de tentar novamente, entre outros.


O que deve ser feito para que as pessoas tirem o tabu de que não se pode falar sobre o suicídio e deixem de lado o preconceito envolvido?

Começando com esse tipo de informação, porque a mídia pode ajudar muito. Existe um mito muito grande de que não podemos abordar sobre o suicídio, porque senão vamos estar induzindo as pessoas. A mídia só não pode fazer algo sensacionalista a respeito do assunto, ela tem a função de informar a respeito das doenças mentais, porque elas estão por trás desse ato tão desesperador. Falar sobre a depressão, que se trata de uma doença, que envolve questões neuroquímicas. São muitos os estígmas, que a pessoa é manhosa, que a pessoa tem falta de fé, que ela está inventando tudo aquilo, que ela está manipulando tudo aquilo e não é, informação vem em primeiro lugar.

 


A falta de fé pode ser uma das causas do suicídio?
Você ter uma fé, uma espiritualidade, independente da religião é um fator protetor, então quanto mais engajado em questões sociais, religiosas, as pessoas se suicidam menos. Q que eu quis dizer que não é falta de fé, nesse sentido, a religiosidade é um apoio, não pode ser considerado uma causa. A etiliologia é multi fatorial, ela envolve história familiar, parte biológica, eventos adversos ao longo da vida. Não é uma causa só. Estar desempregado, desestabilidade em um relacionamento, estar sozinho, estar viúvo, são fatores de risco, então você praticar a fé conta como apoio. 


Identifiquei uma pessoa que precisa de tratamento, o que fazer?

O medicamento entra muito para tentar estabilizar, reestabelecer essa parte de neurotransmissor, mas precisa muito de uma intervenção psicoterápica e avaliar o nível de ideação de suicídio que essa pessoa está, porque se estiver muito intenso, muito grave, não tem outro caminho a não ser internação para tirar essa pessoa do risco. Mas as pessoas têm deixado de lado, devido ao suporte familiar, procuram tratamento, diminuindo a chance. 


Tratamento não envolve só cuidar do indivíduo, mas de todo ambiente que ele está inserido?

É fundamental ter o apoio da família, da comunidade que está inserida, envolve todo mundo, não adianta os pais estar oferencendo apoio e as pessoas ao redor não. Independente da religião, ajuda muito não julgar, porque tudo o que a pessoa não está precisando nesse momento.


Você usou o termo psicoterapia, existe rixa entre psicólogos e psiquiatras?

Eu acho esse tipo de pensamento tão antigo. A gente tem que usar tudo para estar nos ajudar, porque, como são vários fatores, temos que estar em busca de mais alternativas de tratamentos, mais suporte para esse indivíduo.  Existem vários tipos de técnicas psicoterápicas, como a terapia cognitiva comportamental e tem também trabalhos que comprovam que a associação faz com que o tratamento evolua muito melhor, mais rápido, mais efetivamente, eu acho que as duas coisas funcionam muito bem.


Hoje por conta do excesso de cuidado, os pais tendem a levar os filhos para buscar ajuda no primeiro sinal de problema. Você indica terapia para esses casos?


A terapia não funciona só como intervenção em um momento mais grave, eu acho que ela ajuda a pessoa a se conhecer,  a conhecer seus limites, suas dificuldades, isso, querendo ou não, vai ajudar muito a pessoa a lidar com seus problemas, com adversidades que vão surgindo. Ela pode sim, agir preventivamente. É o psicólogo que encaminha quando acha que é necessário, quando os sintomas estiverem interferindo na vida desse indivíduo de uma maneira muito negativa, pessoal, profissional, acadêmica. Quando a pessoa está tendo sintomas físicos como insônia, alteração de apetite, é preciso analisar, porque aí teria que intervir medicamentos, para não deixar as coisas evoluirem muito. 


Nesse Setembro Amarelo e durante todo o ano, pratique a empatia com o seu próximo.

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